O Brasil vai registrar em 2009 um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2%, déficit em transações correntes entre US$ 18 bilhões e US$ 25 bilhões, e inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) entre 3,7% e 4,7%. Esse é o cenário traçado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), órgão vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo federal, estabelecidas na Carta de Conjuntura 2009 divulgada ontem.
A apresentação das projeções ocorreu sob uma série de críticas voltadas à condução da economia, com foco voltado principalmente à atuação do Banco Central. O coordenador do grupo de análise e projeções do Ipea, Roberto Massenberg, defende ações que privilegiam a geração de emprego, a despeito da geração de superávits primários robustos. “Acho que a política econômica, fiscal e monetária estão erradas”, disparou ele. Para o economista, o pior da crise já passou e cabe principalmente ao setor público promover as condições para a retomada do crescimento. “Estamos com um receituário para uma situação que não é mais a nossa, mas apropriada, por exemplo, para o período de transição de governo ou na crise asiática”, disse. Massenberg também disse que existe exagero sobre o alcance da crise. “O que vejo é uma tremenda onda pessimista de reflexão sobre a economia brasileira. Não vejo motivos racionais para análises tão pessimistas”, completou.
Projeções otimistas
As projeções do Ipea levam em consideração fatores como aumento de investimentos devido ao fortalecimento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o lançamento do programa habitacional, o aumento do salário mínimo, o ingresso de 1,3 milhão de famílias nos programas sociais do governo e o aumento da liberação de créditos direcionados. A retração da inflação leva em conta o desaquecimento da atividade econômica e o bom resultado da safra agrícola, evitando pressões sobre os preços dos alimentos. Para explicar a retração do déficit em transações correntes (que foi de US$ 28,3 bilhões no ano passado), o Ipea destaca que houve redução do fluxo de comércio e dos preços das commodities.
O titular da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Ipea, João Sicsú, não revelou quais foram os parâmetros utilizados na elaboração da estimativa. Relatou apenas que espera um câmbio “um pouco mais apreciado” do que o atual ao final de período. Quanto à evolução da taxa básica de juros, a Selic, o diretor remeteu-se ao estudo intitulado: A gravidade da crise e a despesa de juro do governo – elaborado pelo próprio Sicsú – divulgado no início deste mês. Esse estudo considera a redução da Selic ao patamar de 7% ao ano a partir de outubro. Atualmente a Selic é de 11,25% ao ano.
Em 2008, o Ipea previu crescimento do PIB entre 4,2% e 5,2% e o verificado foi de 5,1%. Para o resultado em conta corrente, a previsão inicial era por um déficit de US$ 11,5 bilhões, mas depois a estimativa foi revisada para o intervalo entre US$ 27,5 bilhões e US$ 34,5 bilhões, e o valor efetivo foi de US$ 28,3 bilhões negativos. Para a inflação, a projeção inicial era de alta entre 4% e 5%, depois revista para 6,3% e o resultado foi de 5,9%. Sicsú disse que as projeções para 2009 não serão submetidas a revisões.