A Polícia Federal (PF) pediu, na manhã desta quinta-feira (3), que a prisão temporária de João Santana e da mulher dele Monica Moura seja convertida para preventiva, quando não há prazo para deixar a detenção. A decisão cabe ao juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância.
O Ministério Público Federal (MPF) também pode solicitar o pedido de conversão, mas, até as 10h34 não tinha se posicionado.
O casal foi preso na 23ª fase da Lava Jato e é suspeito de receber US$ 7,5 milhões desviados da Petrobras em uma conta não declarada no exterior. Os dois estão detidos na carceragem da PF em Curitiba e tiveram a prisão temporária prorrogada por cinco dias. O prazo venceu nesta quinta.
Santana é publicitário e foi marqueteiro das campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT) e da campanha da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006.
No pedido feito pela PF, os delegados afirmam que em uma agenda apreendida na residência de Maria Lúcia, secretária da Odebrecht solta na quarta-feira (2), é possível encontrar referência ao contato FEIRA e, ao lado, o nome de Mônica Moura.
“Os telefones que seguem abaixo da anotação encontram-se todos vinculados a Mônica Moura e João Santana, não deixando qualquer margem para dúvida de que a pessoa ali referida se trata, de fato, da investigada Mônica Moura”, dizem os delegados.
De acordo com as investigações, o termo “Feira” seria utilizado utilizado pela Odebrecht, empresa acusada na Lava Jato, para reportar-se não propriamente a João Santana, mas a Mônica Moura, já que ela seria a responsável pela parte administrativa e financeira das atividades do casal.
Segundo o juiz Sérgio Moro, provas indicam que o relacionamento de Santana e Mônica com a Odebrecht é maior do que o admitido pelos suspeitos e que eles teriam recebido da empresa quantias “bem mais expressivas do que aquelas já rastreadas” na conta na Suíça.
A PF também apontou um novo bilhete de Mônica Moura no interior de um caderno apreendido com Maria Lúcia. De acordo com os delegados, ao mandar um “obrigada e um beijo”, Mônica demonstrou proximidade com a secretária da Odebrecht.
Um fragmento de papel de coloração amarela, conhecido popularmente como post-it, também foi encontrado no meio do caderno e mostra telefones que seriam supostamente da mulher de Santana.
“Chama a atenção, nos dois casos, as referências a horários, o que pode indicar que a emitente aguardasse algo a ser recebido, que poderiam certamente tratar-se dos ‘acarajés’, especialidade de MARIA LÚCIA. E frise-se, não se trata de ilação conforme afirmado pela defesa do casal. Há sim uma farta gama de indícios a corroborar o raciocínio exposto”, completa a PF.
A atual fase da Lava Jato foi batizada de Operação Acarajé, que era o nome usado pelos suspeitos para se referirem ao dinheiro irregular. A PF suspeita que os recursos tenham origem no esquema de corrupção na Petrobras investigado na Operação Lava Jato.
No pedido para ampliar o prazo das prisões, o MPF afirmou que o casal mentiu ao negar que o termo era um apelido usado para se referir a eles nas planilhas de pagamento da Odebrecht.
Anotações em uma agenda apreendida com Maria Lúcia, que seria a responsável por pagamentos secretos da empreiteira, mostram “pagamentos vultosos em reais para Feira”, numa “negociação” cujo total somaria R$ 24,2 milhões, de acordo com as investigações.
“Com efeito, em agenda de Mária Lúcia consta a indicação expressa de Mônica Moura como sendo ‘Feira’, ao lado de diversos telefones dela, referência ainda a um filho do casal e ao próprio João Santana”, diz Moro.
Os investigadores suspeitam que o dinheiro recebido por João Santana foi pagamento por serviços eleitorais prestados ao PT. Maria Lúcia seria uma das responsáveis por repassar dinheiro da Odebrecht.
João Santana trabalhou para vários candidatos do PT e foi marqueteiro das campanhas da presidente Dilma Rousseff e da campanha da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
Maria Lúcia gerenciava uma contabilidade paralela da Odebrecht, destinada ao pagamento de propina. Ela atuava como secretária dos executivos da empresa. A PF sustenta que a funcionária era responsável pela entrega de “vultosos recursos em espécie, utilizando, em linguagem cifrada, o termo acarajés”.