Dois dias depois de o presidente dos EUA, Barack Obama, telefonar à presidente eleita Dilma Rousseff para garantir que está disposto a manter colaboração com o Brasil, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) anunciou, ontem, que vai comprar um adicional de US$ 600 bilhões em papéis do Tesouro norte-americano até o segundo semestre de 2011. A decisão, entre outros reflexos, deve acirrar a guerra cambial, com consequências diretas para o Brasil.
Apesar dos bons resultados apresentados em outubro pelas exportações brasileiras, que pela primeira vez no ano cresceram mais que as importações no mês, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral, também expressou preocupação com a política dos Estados Unidos de inundar o mercado americano de dólares. “O anúncio do Fed causa preocupação pois trata de uma ‘política de enfraquecimento do vizinho’ que acaba gerando medidas de retaliação em outros países, e isso causa ainda mais distorções. O resultado é esse câncer que é o protecionismo, cuja metástase é muito rápida.”
Ontem (3) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu “brigar” durante o encontro dos chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo (G-20) para encontrar uma solução que evite a contínua valorização do real. Nessa briga Lula contará com a presidente eleita, Dilma Rousseff.
“Vou para o G-20, agora, para brigar. Se eles já tinham problema para enfrentar o Lula, agora vão enfrentar o Lula e a Dilma”, disse.
Lula acusou os Estados Unidos e a China de serem os responsáveis pelos problemas cambiais vividos por diversas economias e reafirmou que o governo brasileiro irá tomar “todas as medidas necessárias” para evitar uma sobrevalorização do real frente ao dólar americano. O encontro do G-20 acontece na próxima semana em Seul, na Coreia do Sul.
Dilma Rousseff ponderou, entretanto, que o cenário atual exige uma ação mais integrada dos países, como o ministro Mantega vem defendendo. “Numa situação dessas não tem solução individual”, disse a presidente eleita. Dilma também fez um alerta sobre os riscos de economias como a americana e a chinesa manterem políticas de “desvalorização competitiva”. “A última vez que houve isso, deu no que deu: a Segunda Guerra Mundial.”