O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi cobrado ontem em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado por não ter iniciado a baixa de juros em dezembro, quando a atividade econômica sofria forte desaceleração, como mostraram mais tarde os dados Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre.
Meirelles argumentou que a economia foi recompensada pela cautela monetária: os juros futuros recuaram fortemente e a taxa de câmbio se tornou menos volátil. “Taxa Selic boa é a taxa Selic adequada, não necessariamente a mais baixa possível”, afirmou Meirelles, lembrando que em 2002 o BC baixou a taxa básica no momento errado, provocando a alta dos juros futuros.
Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve os juros estáveis em 13,75% ao ano, temendo principalmente os efeitos da desvalorização cambial sobre a inflação. A flexibilização monetária começou apenas no fim de janeiro, com um corte de 1 ponto percentual (pp.), e prosseguiu em março, com corte de mais 1,5 pp. O PIB sofreu recuo de 3,6% no quatro trimestre de 2008, quando comparado ao período imediatamente anterior, segundo estatísticas divulgadas pelo IBGE.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que o BC errou nos seus cálculos, já que previu um efeito do câmbio na inflação que não se concretizou. “Hoje, fica fácil dizer que não houve repasse cambial”, disse Meirelles. “Isso não estava claro naquele momento (em dezembro). A história mostrava que podia haver repasse do câmbio à inflação.”
Meirelles argumentou que a política monetária austera contribuiu para evitar o repasse cambial. “Essa é a síndrome do julgamento do BC”, afirmou. “O BC deve agir preventivamente para evitar a alta da inflação e, quando as coisas dão certo, é acusado de agir desnecessariamente, já que a inflação não apareceu.”
Segundo a argumentação de Meirelles, o BC agiu corretamente ao sinalizar em dezembro que, no mês seguinte, iria iniciar a flexibilização monetária, porque dessa forma mostrou ao mercado financeiro que não estava abandonando as suas metas inflacionárias. O resultado, segundo ele, é que a partir da manutenção da taxa Selic os juros futuros registraram queda. “A volatilidade cambial também está caindo, voltando aos patamares pré-crise”, disse Meirelles. “É o sucesso da política econômica brasileira. Deixamos que o mercado ajustasse a taxa de câmbio aos patamares adequados, provemos liquidez e fizemos uma política monetária responsável.”
Meirelles traçou um paralelo com 2002, quando, em razão do receio dos investidores com a eleição do presidente Lula, a taxa de câmbio sofreu forte depreciação e a economia iniciou processo de desaceleração. “Quando o BC reduziu a Selic em julho de 2002, a taxa de juros do mercado subiu”, disse Meirelles, explicando que o mercado ficou receoso de o corte de juros levar ao aumento da inflação. “Em 2003, o BC subiu a taxa Selic, e os juros de mercado caíram.”
O presidente do BC disse ainda que considera pessimistas as projeções do mercado financeiro para o crescimento do PIB em 2009, que foram revistas para 0,01% na última semana, segundo a pesquisa Focus feita pelo próprio BC com cerca de cem analistas econômicos. Meirelles não revelou qual será o percentual projetado pelo BC em seu relatório de inflação, que deverá ser divulgado na próxima segunda. A expectativa dentro do governo é que esse percentual seja um pouco inferior a 2%, em linha com a projeção, também de 2%, usada no Orçamento deste ano pela equipe econômica.
Não é a primeira vez que Meirelles afirma que as projeções do setor privado são excessivamente pessimistas. Em outro depoimento no Senado, ocorrido em dezembro, ele disse que a previsão da Confederação Nacional da Indústria (CNI), então em 2,4%, era pessimista. Semanas depois, o BC previu oficialmente um crescimento de 3,2% em 2009, percentual que, com a divulgação de indicadores econômicos recentes, se mostrou excessivamente otimista.