Cortar substancialmente a taxa básica de juro não está sendo mais suficiente para baixar o custo do dinheiro e permitir a retomada do crédito para a economia, diante da disfuncionalidade dos mercados. Essa situação ocorre em várias partes do mundo, e em escala menor no Brasil, onde a Selic cai mas o spread bancário aumenta.
A conclusão é de representantes dos principais bancos centrais, reunidos ontem num comitê de serviços financeiros no Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos bancos centrais. Esse comitê é a nível de diretores. Ontem, porém, o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, foi um dos participantes, a dois dias de nova reunião do comitê de Politica Monetária (Copom), em meio a novas pressões por baixa de juros diante da forte desaceleração da economia brasileira.
As taxas de juros estão globalmente mais baixas do que antes da crise. Mas “´disfuncionalidades financeiras” fragilizaram os mecanismos de transmissão da politica monetária, e os bancos endureceram suas exigências para emprestar. Várias fontes de financiamentos para as instituições financeiras e mercados secaram, e bancos têm limitações enormes na capacidade para securitização de crédito. Assim, os spreads aumentaram em geral, e o custo do dinheiro, particularmente para companhias, estão em níveis bastante elevados.
Os técnicos concordaram que o problema não é necessariamente monetário, mas de crédito. No momento em que os mercados estão disfuncionais, mesmo com as taxas base sendo cortadas, os spreads bancários aumentam. Portanto, existe uma contração monetária, independentemente do BC. Exemplo típico apresentado na reunião do BIS, segundo um participante, sao os Estados Unidos, com a taxa base de juro a zero, mas o mercado de crédito está caro e não há financiamento disponível.
O grande desafio, pelo que se discutiu no BIS, é como se colocar o sistema financeiro para funcionar e conseguir baixar o custo do crédito. No passado, com os mercados funcionando normalmente, isso era mais simples, e o corte na taxa de base, como a Selic, influenciava na ponta, para o consumidor. Os próximos anos serão de credito mais caro e exigirá mais aval ou garantias. É uma das razões de ser pouco provável recuperação mesmo em 2010, dizem analistas.
Parte das medidas dependerá dos testes de resistências dos bancos, que países vêm fazendo, para verificar a necessidade das instituições e alocar capital para a retomada da intermediação financeira.
Um documento destinado aos presidentes de BCs e ministros de finanças do G-20, ao qual o Valor teve acesso, aponta as intervenções diretas nos mercados de créditos como a medida chave. Os maiores BCs, como o Fed, aumentaram o apoio direto aos mercados. Desde setembro, o balanço do Fed aumentou de 6% do PIB (US$ 940 bilhões) para 15%. E a expectativa é de que vai expandir outros US$ 800 bilhões, para 22% do PIB americano. O balanço do Banco Central Europeu expandiu em 70%.
No Brasil, haveria discussão entre governo e bancos sobre maneiras de baixar o spread bancário, mas não há nada conclusivo.