Empresa paulista pede extinção de contribuição com base na Súmula Vinculante 8
23 de janeiro de 2009Fed: medidas \”não-convencionais\”
27 de janeiro de 2009Segundo informações de Washington, a administração Obama pode estar perto de liberar até US$ 100 bilhões da segunda parcela de recursos do programa de ajuda aos ativos problemáticos, para criar um \”banco agregador\” que se encarregaria de remover os títulos tóxicos dos balanços dos bancos. O plano seria alavancar esse montante em dez vezes, usando o balanço do Federal Reserve (Fed), de modo que o sistema bancário poderia ser aliviado de ativos ruins avaliados em até US$ 1 trilhão.
Embora os detalhes ainda não tenham sido decididos, essa abordagem lembra a postura originalmente adotada – mas que acabou sendo abandonada – por Hank Paulson, o ex-secretário do Tesouro. A proposta tem as mesmas deficiências: os títulos tóxicos são, pode definição, difíceis de serem avaliados. A introdução de um comprador significativo resultará não no descobrimento dos preços, e sim numa distorção dos preços.
Além disso, os títulos não são homogêneos, o que significa que até mesmo um processo de leilões deixaria o banco agregador com ativos inferiores por causa da seleção adversa. Mesmo com preços inflados artificialmente, a maioria dos bancos não conseguiria marcar os portfólios remanescentes aos preços do mercado e portanto precisariam de ajuda adicional. A solução mais provável é \”cercar\” seus portfólios, com o Fed absorvendo as perdas que vão além de certos limites.
Essas medidas – se implementadas – dariam um suporte de vida artificial aos bancos com custos consideráveis para os contribuintes, mas não colocariam os bancos em posição para retomar a concessão de empréstimos a taxas competitivas. Os bancos precisariam de margens gordas e curvas de rendimento íngremes por um longo tempo para reconstruírem seu capital.
Na minha visão, um plano de injeção de capital baseado em avaliações realistas, seguido de um corte nas exigências de capital mínimo para os bancos, seria muito mais eficiente no restabelecimento da economia. O ponto negativo é que isso exigiria bem mais que US$ 1 trilhão em capital novo. Envolveria uma solução do tipo banco bom/banco ruim, nos casos apropriados. Isso diluiria bastante as participações dos atuais acionistas e poderia colocar a maior parte do capital dos bancos nas mãos do governo.
A administração Obama tem uma escolha difícil entre nacionalizar parcialmente os bancos, ou deixá-los em mãos privadas mas nacionalizando os ativos tóxicos. O primeiro caminho prejudicaria bastante um segmento amplo da população – não só os detentores de participações nos bancos, como também os beneficiários de fundos de pensão. No entanto, ele limparia o ar e restabeleceria a economia.
O segundo caminho significaria evitar reconhecer e encarar as dolorosas realidades econômicas, mas iria colocar o sistema bancário no mesmo dilema que levou à ruína das entidades patrocinadas pelo governo – Fannie Mae e Freddie Mac. O interesse público determinaria que os bancos deveriam retomar a concessão de empréstimos em condições atraentes. Entretanto, esses empréstimos teriam que ser fiscalizados pelo governo, porque o interesse próprio dos bancos os levaria a se concentrar na preservação e reconstrução de seu próprio capital.
As realidades políticas estão empurrando a administração Obama para o segundo caminho. Ela não pode ir ao Congresso e pedir para gastar mais US$ 1 trilhão na recapitalização dos bancos, porque Paulson \”envenenou o poço\” pela maneira como exigiu e depois gastou o dinheiro no programa de ajuda dos ativos problemáticos. Mesmo que a segunda parcela do programa – os restantes US$ 350 bilhões – pudesse ser liberada apenas por uma manobra do Congresso. É isso que está levando a administração Obama a contemplar uma reserva de até US$ 100 bilhões dessa parcela para a solução do \”banco agregador\”.
O mercado pede uma decisão rápida, ao pressionar as ações do setor financeiro. Mas a nova administração vai evitar os erros da administração anterior, não anunciando um programa antes que ele esteja bem elaborado. A escolha entre os dois caminhos é muito importante: uma vez tomada, será irreversível.
O presidente Barack Obama poderá cumprir sua promessa de uma abordagem nova e ousada apenas estabelecendo uma descontinuidade com a administração anterior. O Congresso e a população estão certos em achar que muita coisa vem sendo feita pelos bancos e pouca pelos encrencados proprietários de residências. O governo deveria tirar as entidades patrocinadas por ele do limbo e usá-las mais ativamente para estabilizar o mercado imobiliário residencial. Fazendo isso, ele poderia voltar ao Congresso em busca de autorização para recapitalizar o sistema bancário da maneira correta.
George Soros é presidente do conselho de administração da Soros Fund Management
