O novo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, terá de dividir o poder
com um tio e com os militares, o que significa que o regime comunista
terá um comando coletivo depois da morte de Kim Jong-il, disse ontem à
agência Reuters uma fonte que mantém estreitas ligações com os governos
da Coreia do Norte e da China.
A fonte não quis ser identificada, mas já previu corretamente eventos
anteriores – foi quem revelou à Reuters que a Coreia do Norte testaria
sua primeira arma nuclear em 2006, como de fato ocorreu.
Kim Jong-un, de 29 anos, sucederá a seu pai como parte de uma
dinastia familiar comunista que dirige a Coreia do Norte desde a
fundação do país, na década de 40. Kim morreu no sábado, mas a morte só
foi anunciada na segunda-feira. A fonte qualificou de “muito improvável”
a hipótese de um golpe militar. “Os militares juraram obediência a Kim
Jong-un”, acrescentou.
A liderança coletiva, segundo a fonte, incluirá Jang Song-thaek, de
65 anos, e a mulher dele, Kim Kyong-hui, irmã de Kim Jong-il. Em 2009,
Jang foi nomeado para a Comissão Nacional de Defesa, um órgão de alto
escalão que Kim Jong-il dirigia na qualidade de comandante do
militarizado Estado norte-coreano. Na segunda-feira, antes do anúncio da
morte de Kim, a Coreia do Norte testou um míssil de curto alcance o
que, segundo a fonte, foi feito como um alerta aos EUA. “A Coreia (do
Norte) quis passar a mensagem de que tem a capacidade de se proteger
sozinha”, disse a fonte. “Mas dificilmente a Coreia conduzirá um teste
nuclear no futuro próximo, a não ser se for provocada.”
O programa nuclear norte-coreano é motivo de tensões na comunidade
internacional. O país testou uma bomba em 2006 e 2009, e abandonou
negociações com EUA, China, Japão, Rússia e Coreia do Sul, que ofereciam
benefícios políticos e econômicos em troca do fim do programa de armas
nucleares norte-coreano.
A China, principal aliada da Coreia do Norte, convidou na terça-feira
o novo líder norte-coreano a fazer uma visita. O presidente Hu Jintao e
seu vice, Xi Jinping, prestaram condolências na embaixada norte-coreana
em Pequim.
O governo chinês pressiona Pyongyang a abrir mão das armas nucleares,
e a fonte disse que o país aceitaria isso, sob a condição de que seja
assinado um armistício envolvendo EUA, China e as duas Coreias, para
substituir o cessar-fogo que encerrou a Guerra da Coreia (1950-53).
Aproximação. Ainda ontem, EUA e Coreia do Sul adotaram uma cautelosa
abertura para com a Coreia do Norte. Seul autorizou civis e empresas
privadas a enviarem condolências pela morte de Kim Jong-il e o
Departamento de Estado disse que diplomatas americanos se reuniram com
representantes norte-coreanos na ONU para retomar o diálogo. Os EUA
negociavam o envio de ajuda alimentar à Coreia do Norte em troca da
suspensão do programa nuclear.