O futuro diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, é tido por seus ex-colegas no Banco do Brasil como um profissional de perfil conservador, mas que evita assumir posições radicais e está sempre aberto ao diálogo e ao convencimento. A aposta é que, no Comitê de Política Monetária (Copom), Mendes oscile entre o grupo mais ortodoxo, capitaneado pelo diretor de política econômica da instituição, Mario Mesquita, e o grupo que sistematicamente defende baixas mais agressivas na taxa básica de juros, liderado pelo diretor de normas do BC, Alexandre Tombini.
Anteontem, o BC anunciou que Mendes irá substituir o atual diretor de política monetária, Mario Torós, que já há alguns meses havia indicado sua intenção de deixar a diretoria colegiada da instituição. O presidente do BC, Henrique Meirelles, sondou Mendes pela primeira vez no início do ano, quando ele ainda era vice-presidente de finanças do BB na gestão de Antonio Francisco de Lima Neto.
Meirelles escolheu Mendes a partir de indicações de outros diretores do Banco Central. O diretor de liquidações da instituição, Antonio Gustavo Matos do Vale, foi diretor de tecnologia do BB entre 2001 e 2003. Depois que foi alçado à diretoria colegiada, Mendes se tornou o principal interlocutor do BB com o BC, mantendo contatos principalmente com Tombini para discutir normas de interesse do sistema bancário.
A saída de Torós foi anunciada três dias depois da publicação de reportagem pelo Valor, na qual ele é uma das fontes, que revela bastidores da estratégia brasileira de combate à crise. Mas os contatos para a substituição de Torós haviam acontecido antes disso. Há algumas semanas, ele havia anunciado a Meirelles que não pretende participar da próxima reunião do Copom, marcada para dezembro.
Na semana passada, Meirelles convidou Mendes para substituir Torós, numa articulação que teve o aval do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O presidente Lula concordou com a escolha na quinta-feira passada, um dia antes de ser publicada a reportagem do Valor.
Apesar de ter recebido a concordância de Mantega, fontes do governo dizem que sua escolha não é uma indicação pessoal do ministro. Mendes deixou a vice-presidência de finanças do BB, sendo conduzido ao comando da companhia de seguro Aliança do Brasil, por pressão do ministro. Mendes era muito identificado com Antonio Francisco Lima Neto, que deixou a presidência do BB em meio a acusações de ter subido os juros bancários durante a crise financeira mundial.
Além disso, também era próximo do ex-presidente do BB Rossano Maranhão, nomeado pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Ao deslocar Mendes da diretoria colegiada do BB para a Aliança do Brasil, Mantega eliminou a última influência que Palocci tinha no BB.
Na época, Mendes discutiu, em conversas com o BC, os critérios adotados pela autoridade monetária para medir e calcular o spread. A tese do BB, defendida tanto por Mendes quanto por Lima Neto, era que as estatísticas eram de má qualidade e davam a impressão de que os juros cobrados eram altos demais.
A defesa de critérios técnicos para definir os juros bancários é apontada por seus colegas do BB como um sinal de sua atitude conservadora. Na gestão do banco, afirmam, ele sempre defendeu que os riscos fossem medidos adequadamente e que o BB fosse recompensado por eles com juros adequados. A habilidade para colocar seus argumentos sobre os juros bancários junto ao BC e ao governo, por outro lado, é uma mostra de seu caráter conciliador. Depois da demissão de Lima Neto, Mendes foi um dos poucos vice-presidentes mantidos no cargo pelo novo presidente, Aldemir Bendine.
Ontem, Meirelles voltou a indicar que, dependendo da evolução do cenário eleitoral em 2010, poderá permanecer no BC até o fim do governo Lula. Meirelles disse que Mesquita e Gustavo do Vale devem permanecer no BC enquanto ele próprio comandar a instituição. Ontem, Meirelles voltou a conversar com Lula para acertar os detalhes do envio da indicação de Mendes ao Congresso. Devido à agenda apertada de fim de ano, é possível que isso ocorra nesta semana e a aprovação ocorra antes da próxima reunião do Copom.