A diretoria do Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou ontem a criação de uma nova linha de crédito, facilitando o acesso de países emergentes como o Brasil aos recursos da instituição e aperfeiçoando um instrumento que pode ser útil se o prolongamento da crise internacional criar dificuldades ainda maiores para essas economias.
Poderão se candidatar à nova linha de crédito países que, na avaliação do FMI, tiverem fundamentos sólidos e seguirem políticas econômicas responsáveis. Os países que receberem o selo de aprovação da instituição não precisarão cumprir outras exigências para ter acesso ao dinheiro depois, ao contrário do que ocorre com as operações de socorro tradicionais do Fundo.
Não há limites previamente estabelecidos para a nova linha de crédito. Eles serão discutidos caso a caso com os países que se interessarem pelo mecanismo. Os que forem aprovados não precisarão sacar o dinheiro imediatamente. Se preferirem, ele poderá ficar disponível por até um ano, dependendo apenas de uma revisão das políticas seguidas pelo país após seis meses.
A diretoria do FMI aprovou outras mudanças importantes ontem, tornando um pouco menos rigorosas as exigências que costumam ser associadas aos empréstimos tradicionais da organização e aumentando o volume de recursos que os membros do Fundo podem sacar. A partir de agora, cada país pode sacar por ano até duas vezes sua cota no capital da instituição. Isso representaria US$ 9,1 bilhões no caso do Brasil, que quitou suas dívidas com o Fundo em 2005.
O Fundo lançou nos últimos anos dois mecanismos de prevenção de crises com características semelhantes às da nova linha de crédito, mas eles nunca foram usados. Parte do problema foi sanado agora. Batizado de Linha de Crédito Flexível (FCL, na sigla em inglês), o novo instrumento oferece empréstimos de valor mais significativo e condições bem mais atraentes.
Mas o principal problema permanece. Países com políticas consideradas exemplares pelo FMI, como Brasil, Chile e Coreia do Sul, não têm interesse em se candidatar à nova linha de crédito porque temem os prejuízos que sua reputação poderia sofrer se os investidores interpretassem o movimento como um sinal de fragilidade financeira.
Ao apresentar a nova linha de crédito para repórteres ontem, o primeiro subdiretor-gerente do Fundo, John Lipsky, disse esperar que as mudanças convençam os países emergentes de que ela pode ser um instrumento útil num ambiente econômico imprevisível como o atual. “Estamos respondendo a necessidades e pedidos dos nossos membros”, disse Lipsky, o número dois na hierarquia da organização.
Países que estão sofrendo com a crise mas ainda contam com volumes significativos de reservas para se defender tem deixado claro que não estão interessados no dinheiro do Fundo. Na semana passada, quando começaram a circular notícias sobre a nova linha de crédito, autoridades da Coreia do Sul e de Cingapura disseram que não precisam de ajuda. Ontem, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, foi a público fazer o mesmo.