Nos últimos 12 meses, quatro em cada cinco brasileiros mudaram de
hábitos por causa da violência. Como resultado direto, também é cada vez
maior o número de pessoas a favor de punições maiores, incluindo pena
de morte, prisão perpétua e diminuição da maioridade penal. Em alguns
casos, defende-se até a violência policial. É o que mostra pesquisa
CNI/Ibope sobre segurança, feita em julho, com 2.002 pessoas em 141
cidades.
Mesmo concordando com o uso de penas alternativas em casos de delitos
leves, 83% dos entrevistados acredita que penas mais severas reduziriam
a criminalidade. A maioria reclama que a impunidade vem aumentando.
Mais da metade (51%) apoia totalmente a prisão perpétua, inexistente no
Brasil. Um porcentual significativo – 31% – defende a adoção da pena de
morte e outros 15% acham que pode ser justificada em alguns casos.
“Há um paradoxo nessa situação. As pessoas acreditam nas políticas
sociais, mas há uma vontade de aumentar o rigor. Acredito que tenha a
ver com a urgência de uma sociedade que está sofrendo com a violência”,
afirmou o gerente executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da
Fonseca.
O levantamento informa, ainda, que 80% dos brasileiros mudaram seus
hábitos no último ano, por causa da violência. A maior parte dos
entrevistados pela CNI prefere não andar com dinheiro, preocupa-se mais
ao chegar ou sair de casa e do trabalho, evita sair à noite e até mesmo
deixou de circular por determinadas ruas ou bairros como medida de
segurança. O mesmo número de pessoas diz ter assistido, nos últimos 12
meses, algum ato de violência ou algum crime; 30% foi ou teve um parente
próximo vítima de um crime.
De acordo com Renato da Fonseca, a pesquisa retrata uma sociedade que
está sofrendo com a violência, mas não é violenta em si. “Fica muito
claro que as pessoas não estão podendo circular livremente pela cidade.
Claramente a violência traz impactos à vida e aos hábitos das pessoas.”
Apesar dessa visão, a pesquisa mostra que um quarto dos
entrevistados, mesmo sem ter confiança na polícia, acredita que a
violência oficial pode ser justificada pela violência dos criminosos.
Outros 25% concordam em parte com essa afirmação.
Outra contradição envolve a proibição da venda de armas, derrotada no
plebiscito de 2005: 54% dos entrevistados hoje se declararam contrários
ao porte de arma pela população.
Maioridade. O constante envolvimento de menores em
crimes tem um reflexo claro na pesquisa. Essa é uma das questões em que
há maior unanimidade nas respostas: 75% dos entrevistados defendem a
redução da maioridade para 16 anos e o mesmo número acredita que
adolescentes que cometem crimes violentos deveriam ser punidos como
adultos.
OPINIÃO
– 60% concordam com penas alternativas para crimes menos graves
– 57% acreditam que não haverá redução da criminalidade com a legalização da maconha
–
65% dos entrevistados concordam com a proibição de venda de bebidas
alcoólicas após a meia-noite para reduzir índices de violência
– 53% são favoráveis à privatização dos presídios