A ajuda internacional de emergência começou a chegar nesta terça-feira (27) à Índia, país que sofre com uma onda acelerada de contágios e mortes por covid-19, um dia depois do Brasil, também muito afetado pela doença, ter negado a autorização para a importação da vacina russa Sputnik V.
Epicentro da pandemia de coronavírus há vários dias e com uma variante local ainda mal identificada, o segundo país mais populoso do planeta, atrás apenas da China, registra diariamente um elevado número de contágios e mortes.
Na segunda-feira, a Índia registrou um recorde mundial de 352.991 pessoas infectadas em um único dia e um recorde nacional de 2.812 mortos. Nesta terça, o país anunciou um número menor de óbitos em 24 horas, 2.771, mas ainda em níveis elevados.
A situação na Índia é \”mais do que desesperadora\”, declarou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus. A instituição enviou equipamentos essenciais ao país de 1,3 bilhão de habitantes.
Os profissionais da saúde e os familiares de pacientes buscam desesperadamente oxigênio, respiradores e leitos. Em Nova Délhi, a metrópole mais afetada do país, alguns percorrem os hospitais em riquixás com seus parentes doentes.
O primeiro avião com ajuda médica para a Índia, com 100 respiradores e 95 concentradores de oxigênio britânicos, chegou nesta terça-feira a Délhi. Londres deve enviar até 495 concentradores e 140 respiradores nos próximos dias.
O governo dos Estados Unidos prometeu enviar compostos para a produção de vacinas, equipamentos de proteção, testes rápidos de diagnóstico e respiradores.
A União Europeia (UE) se comprometeu a fornecer \”assistência\”. Alemanha, França e Austrália anunciaram o envio de ajuda de emergência.
O governo do primeiro-ministro nacionalista hindu Narendra Modi é alvo de críticas por sua gestão da crise. A pedido do Executivo, o Twitter suprimiu dezenas de mensagens críticas.
A variante indiana da covid-19 ainda gera perguntas. A OMS destacou que ainda não sabe se a elevada mortalidade se deve a uma gravidade maior da variante, à pressão sobre o sistema de saúde pelo aumento de casos ou a uma combinação das duas.
A variante, já detectada na Bélgica, Suíça, Grécia e Itália, apareceu no momento em que vários países da Europa começaram a flexibilizar as restrições ou estudam adotar medidas nas próximas semanas.
Para evitar a propagação, a Austrália decidiu nesta terça-feira suspender até 15 de maio os voos procedentes da Índia, após decisões similares do Canadá, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia.
A Bélgica anunciou o fechamento de suas fronteiras a viajantes procedentes da Índia, Brasil e África do Sul, países que registraram outras variantes do vírus, que matou mais de 3,1 milhões de pessoas no mundo desde dezembro de 2019.
Depois de superar no sábado a barreira de um bilhão de doses administradas no mundo, as campanhas de vacinação prosseguem no mundo, provocando disputas entre países e laboratórios sobre as entregas.
Os fabricantes da vacina russa contra a covid-19 Sputnik V criticaram nesta terça-feira a decisão do governo brasileiro, que consideraram \”política\”, de não autorizar a importação do fármaco.
\”Os atrasos da Anvisa na aprovação da Sputnik V são, infelizmente, de natureza política e não têm nada a ver com acesso à informação ou ciência\”, afirma a conta no Twitter da vacina russa.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negou na segunda-feira um pedido de vários estados brasileiros para importar a vacina russa Sputnik V por considerar que faltam dados técnicos para verificar sua segurança e eficácia.
O Brasil é o segundo país com o maior número de mortes provocada pela covid no mundo (391.936).
\”Jamais permitiremos, sem que existam as devidas provas necessárias, que milhões de brasileiros sejam expostos a produtos sem a devida comprovação de sua qualidade, segurança e eficácia ou, no mínimo, em face da grave situação que atravessamos, uma relação favorável risco-benefício\”, declarou Antonio Barra Torres, presidente da Anvisa.
Os cinco diretores da Anvisa seguiram as recomendações da área técnica da agência, que identificou diversas \”incertezas\” em relação à segurança e eficácia do imunizante, que ainda não foi aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) ou pela FDA (Administração Federal de Alimentos e Medicamentos) dos Estados Unidos.
Em uma tentativa de agilizar os planos de vacinação, uma dezena de estados do Norte e Nordeste do Brasil assinaram contratos com o Fundo Soberano da Rússia (RDIF), que financiou o desenvolvimento da Sputnik V, para a compra de mais de 30 milhões de doses. O governo federal brasileiro adquiriu outras 10 milhões.
O governo dos Estados Unidos vai fornecer a outros países 60 milhões de doses da AstraZeneca, anunciou na segunda-feira a Casa Branca, que vem sendo criticada por se recusar a exportar a vacina, que ainda não foi aprovada no país.