Até o estouro da crise global, em 2008, a bonança que sustentou o mundo levou junto o Brasil, que registrou, nos cinco anos anteriores, a maior média de crescimento em quase duas décadas – 4% anuais. O forte avanço do país provocou euforia entre os investidores, a ponto de eles alçá-lo à condição de futura potência. O estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, porém, não só empurrou as nações ricas para uma gravíssima recessão, como desnudou os problemas brasileiros.
Mesmo que os ventos a favor que vêm de fora tragam alguns benefícios ao país, estaremos no fim da fila, tornando ainda mais difícil a missão do próximo presidente da República, que tomará posse em 2015. “As notícias em relação à economia mundial são boas, mas os efeitos só serão sentidos pelo Brasil mais à frente, se fizermos o dever de casa direitinho”, diz o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal.
Na avaliação da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, o momento é de cautela. Mas, independentemente das incertezas que rondam a economia global e da forte desaceleração das nações emergentes, o organismo revisará, para cima, as perspectivas de crescimento do planeta em 2014, atualmente em 3,6%, com repercussões positivas para 2015. Poucos acreditam, contudo, que o Brasil será contemplado com alguma mudança.
Desconfiança
A projeção do FMI para a economia brasileira neste ano está em minguados 2,5%, número considerado otimista demais por grande parte dos analistas, dadas as fragilidades ostentadas até agora: inflação alta, juros apontando para cima, ajuste fiscal frágil, investimentos produtivos contidos e ameaça da rebaixamento pelas agências de riscos. “Para piorar, o atual governo não ajuda. Em vez de dar indicações consistentes ao capital, estimula a desconfiança e reduz o horizonte das empresas”, destaca Cláudio Porto, presidente da Consultoria Macroplan.
Investidor liga alerta
O sinal de alerta está ligado entre os investidores. E o preço a ser pago por tantos problemas será alto. O Brasil faz parte do que o mercado batizou de grupo dos “cinco frágeis”, na companhia de Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia. Com suas moedas se desvalorizando, devido, principalmente, aos elevados rombos nas contas externas, que os tornam mais vulneráveis às mudanças na política monetária dos Estados Unidos, esses países passarão por processos eleitorais em 2014, período em que os governantes ficam tentados ao populismo em vez de adotarem medidas duras de ajuste.
Para Cláudio Porto, o futuro presidente do Brasil terá de lidar com uma herança pesada, que poderá ou não ser minimizada se o governo souber tirar proveito da retomada da economia global. O país precisa incrementar a produtividade. Obras de infraestrutura atualmente em curso apontam para avanços. Mas os investimentos privados precisam desempacar. “Depende de nós termos competitividade. Ela é alta no agronegócio, mas baixa na indústria”, afirma o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, Carlos Eduardo de Freitas. “O pênalti está marcado a nosso favor. Se vamos fazer gol, eu não sei”, compara.
PROSPERIDADE Ex-diretor do Banco Central, Freitas lembra que o Brasil perdeu alguns momentos de prosperidade mundial, caso dos anos 1990, quando ainda se esforçava para arrumar a casa após a crise da dívida. Apesar disso, ele é otimista, ao lembrar que houve mais coincidências do que descompassos ao longo da história: os momentos de maior crescimento do Brasil foram também de forte alta do PIB mundial. “Nunca vi o fim de uma crise ser ruim para o Brasil. Se o Peru, o México e a China crescerem mais, isso vai criar oportunidades aqui”, avalia.