Emblemático das dúvidas que cercam o novo marco regulatório do petróleo e o processo de capitalização da Petrobras, que pode contemplar uma emissão gigante de ações, os papéis da estatal praticamente desapareceram da Carteira Valor. No portfólio indicado para setembro, das dez corretoras participantes, apenas uma manteve as preferenciais (PN, sem direito a voto) da estatal na sua seleção de curto prazo. Embora, no longo prazo, os analistas enxerguem fundamentos consistentes para o setor de petróleo no Brasil – que pode fazer frente a uma demanda crescente por um produto escasso no mercado global -, até que se tenha o valor do barril de petróleo na cessão de direitos das reservas do pré-sal, e que servirá de referência para o aumento de capital, é de se esperar muito vaivém para os ativos da empresa.
Na lista “top 10”, Petrobras até marca presença pelo critério liquidez. Depois do agravamento da crise originada nas hipotecas americanas de alto risco e que culminou na quebra do Lehman Brothers um ano atrás, as ações ligadas à cadeia de matérias-primas em geral já vinham perdendo espaço na Carteira Valor. Mas até aqui nunca o papel tinha se restringido a apenas uma recomendação. Das três corretoras que sugeriam o ativo no mês passado, duas, a Planner e a Link, tiraram a ação do portfólio de curto prazo. A Geração Futuro foi a única que manteve.
As demais recomendações para setembro se distribuem pelos setores de mineração e siderurgia, com Vale PNA (4 indicações) e Gerdau PN (2); financeiro, com as ordinárias (ON, com voto) da BM&FBovespa (3), Itaúsa PN, Redecard ON (2) e Banco do Brasil ON (2); Energia, com Tractebel ON (3), consumo, com Pão de Açúcar PNA (3), e a fabricante de autopeças Randon PN (2) completam a seleção. Trata-se de uma diversificação que vem mais concentrada em mercado interno, mas que não deixa de lado as commodities, mais ligadas ao compasso do crescimento global.
Depois de um rali que levou o Ibovespa a acumular valorização de mais de 50% no ano, é de se esperar uma realização de lucros nas próximas semanas e, nesse cenário, é aconselhável ser mais defensivo, diz o chefe de análise da Link Investimentos, Andrés Kikuchi. A casa diminuiu a exposição em commodities e aumentou nos setores menos cíclicos, incluindo Transmissão Paulista PN e Vivo PN. A Ativa, que vinha batendo na tecla mercado interno desde o início do ano, acrescentou Tractebel, Pão de Açúcar e AmBev PN, enquanto a Souza Barros também montou um portfólio 100% relacionado à atividade local. A mesma tônica se observa no portfólio da Fator Corretora.
No mês passado, a Carteira Valor rendeu 2,95%, ficando abaixo do Ibovespa, com 3,15%. No ano, o portfólio acumula 49,47%, em comparação aos 50,43% do referencial no mesmo intervalo, mas leva a melhor em 12 meses, com valorização de 9,08%, ante 1,45%.