O ímpeto dos investidores estrangeiros, que voltaram a comprar com avidez nas ofertas de ações, acendeu uma luz amarela na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “É um pouco assustador”, disse ao Valor Maria Helena Santana, presidente da autarquia, que participou, na sexta-feira, do encerramento da “3ª Conferência Anual sobre Contabilidade e Responsabilidade para o Crescimento Econômico Regional na América Latina e Caribe”, em São Paulo.
Como não faz tanto tempo que o país produziu uma bolha especulativa – que fez estragos quando estourou -, a atividade frenética dos bancos de investimentos nos últimos meses não passou despercebida pelo regulador.
Em 2007, em meio a uma euforia nunca vista no mercado de capitais brasileiro, os investidores, na maioria estrangeiros, compraram 64 ofertas iniciais de ações, cerca de R$ 55,5 bilhões. Logo, eles descobriram ter comprado ativos que não valiam o que seus vendedores apregoavam. Ou pior: alguns virariam pó em questão de meses.
Maria Helena ressalta que as ofertas feitas até agora neste ano estão bem fundamentadas. O problema seria um empurra-empurra para aproveitar a janela que se abre depois das férias de verão no hemisfério norte, como aconteceu no fim de 2007. E não há muito que a CVM possa fazer para evitar que isso aconteça. “A escolha é do investidor.”
No mercado, os gatos escaldados já desconfiam de uma nova inflação de preços das ofertas de ações em andamento. Alexandre Póvoa, sócio da gestora de recursos Modal Asset Management, defende que se reserve uma parcela maior das operações para investidores locais, como institucionais, fundos de investimento e até pessoa física. Para ele, essa seria uma maneira de o mercado de capitais brasileiro não ficar refém do estrangeiro, especialmente em momentos de crise, como a recente, em que ele não pensa duas vezes antes de pegar o dinheiro e correr.
“Alguém tem de pensar no mercado local”, afirma. Isso não significa, segundo Póvoa, dar condições especiais para os compradores locais, mas dividir melhor a participação dos investidores. “Sou a favor do livre mercado, mas não se constrói um mercado de capitais sem a pessoa física, o fundo de investimento local”, diz Póvoa.
O risco de limitar a participação do estrangeiro é o de a oferta não ser colocada, avalia o sócio da gestora TAG Investimentos, Marcelo Pereira.
“Seria saudável, mas a demanda do local ainda é pequena”, diz. Na visão dele, o prejuízo que uma companhia pode ter se não conseguir colocar toda a operação é muito maior do que ficar nas mãos de estrangeiros.