Durante a visita que fará hoje (1º) a Irecê, no noroeste da Bahia, a
presidenta Dilma Rousseff deve receber da comunidade pedido de criação
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Sertão. Os moradores
querem investimentos pontuais, a curto prazo e com efeitos imediatos na
vida das famílias.
A referência ao PAC, lançado no governo de
Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de realizar grandes obras de
infraestrutura, é simbólica. Ao contrário do programa de Lula, com visão
macro dos principais gargalos do Brasil, o PAC do Sertão defende ações
“no varejo”.
Os moradores rurais e urbanos da região de Irecê
esperam do governo obras e ações pequenas, baratas e variadas que possam
modificar profundamente o cotidiano das comunidades carentes até de
água potável. “Não precisamos aqui de coisas muito grandes. Precisamos
de ações a serem planejadas hoje, executadas em
seis meses e inauguradas em um ano”, avalia José Nogueira, técnico de
campo do Centro de Assessoria do Assuruá (CAA), uma organização não
governamental dedicada à tarefa de promover a convivência com o
Semiárido.
O PAC do Sertão, na opinião de muitos moradores,
deveria conter obras e ações destinadas a fomentar a economia local.
Nesse contexto estão as ações para acesso à água, os incentivos ao
cooperativismo, o efinanciamento de dívidas agrícolas, linha de crédito
agrícola, investimentos em formação técnica, creches e escolas.
A
demanda por mecanismos de captação de água das chuvas irregulares é a
principal. “Sem infraestrutura, as águas vêm e vão embora sem nada
adiantar”, comenta o agricultor José Nilton Afro dos Santos, 47 anos,
membro da comunidade quilombola de Lagoa do Galdêncio, a cerca de 10
quilômetros do centro de Irecê. José Nilton é beneficiário do Bolsa
Família e conseguiu a construção de uma cisterna que capta a enxurrada e
direciona a água para a irrigação de canteiros e para o consumo das
cabras, que cria para corte.
José Nilton produz hortaliças
orgânicas que vende aos domingos na feira de Lapão, município vizinho de
Irecê. Outra renda vem da mamona, que ele vende para um atravessador.
Depois de beneficiada, a semente é levada para a fábrica de biodiesel de
Iraquara, outro município da região. “Se a gente tivesse uma esmagadora
aqui, seria ótimo”, almeja José Nilton.
Irecê é a principal
cidade de uma área de mais de 27 mil quilômetros quadrados de Semiárido
baiano. Na década de 90, a cidade chegou a ficar conhecida como a
capital do feijão devido a uma política governamental de incentivo ao
plantio da leguminosa. A irregularidade das chuvas, as práticas
agrícolas não sustentáveis e o consequente endividamento dos produtores
fizeram essa cultura declinar.
O resultado é que o feijão que se
come hoje em Irecê é procedente de outras áreas agrícolas. A última
safra importante de feijão foi em 2000, quando a produção chegou a 5
milhões de toneladas. Atualmente, há cultura de mamona, pinha para
exportação, milho, cenoura, beterraba e banana irrigada. O que não se
exporta, serve para abastecer mercados de Salvador, Feira de Santana,
Luiz Eduardo Magalhães e Barreiras, municípios mais desenvolvidos da
Bahia.
A área que envolve o município é tratada pelo governo
federal como um dos Territórios da Cidadania e congrega 20 municípios
menores: Central, Gentio do Ouro, Itaguaçu da Bahia, João Dourado,
Xique-Xique, América Dourada, Barra do Mendes, Barro Alto, Cafarnaum,
Canarana, Ibipeba, Ibititá, Ipupiara, Irecê, Jussara, Lapão, Mulungu do
Morro, Presidente Dutra, São Gabriel e Uibaí.
A população total
do território é de mais de 400 mil habitantes. Desses, mais de 160.241
vivem na área rural, o que corresponde a 40,03% do total. O Índice de
Desenvolvimento Humano da região é baixo: 0,61. O grande número de
beneficiados pelo programa Bolsa Família é alto, por isso a decisão do
governo de anunciar em Irecê o reajuste para o programa de distribuição
de renda.
Só no município de Irecê, mais de 7 mil famílias são
atendidas pelo programa, que em fevereiro atingiu a meta de beneficiar
em todo o país 12,9 milhões de famílias. A Bahia é o estado com maior
número de famílias beneficiadas pelo programa. Dados de fevereiro
indicam que 1,7 milhão de famílias baianas recebem o Bolsa Família.
A
discussão sobre o PAC do Sertão também envolve a população urbana e foi
objeto de debate dos comerciantes na semana passada, logo após
receberem a notícia da visita da presidenta. “A região de Irecê pode ser
comparada à Mesopotâmia, só que em vez do Tigre e do Eufrates, estamos
entre rios que correm somente em uma parte do ano, o Rio Verde e o
Jacaré. Por isso são necessárias obras que tornem esses rios perenes”
avalia o deputado Joacy Dourado (PT), empossado recentemente, que já foi
prefeito de Irecê.
“A barragem de Mirorós está secando e
precisamos de água para beber”, afirma Dourado. Ele aponta a construção
de barragens sucessivas e subterrâneas como forma de resolver o
problema. A preocupação do parlamentar é com a baixa no nível da represa
que abastece 486 mil pessoas em 14 municípios da região.
O
documento com as reivindicações dos moradores deve ser entregue hoje a Dilma. Entre as reivindicações
também estão melhorias no aeroporto de Irecê para que opere com voos
comerciais, reforma de estradas, crédito agrícola, além da implantação
de um centro regional de pesquisas.