Países que ameaçam a estabilidade da zona do euro deveriam ser submetidos à expulsão, disse a chanceler alemã Angela Merkel, e, embora esta dura medida não se aplique à Grécia, as nações europeias não deveriam tomar uma decisão precipitada para ajudar o país a sair da atual crise em sua dívida. “Precisamos de um acordo que, como último recurso, permita excluir um país da zona do euro se, insistentemente, não cumprir com as exigências”, afirmou Merkel em um depoimento na câmara baixa do Parlamento.
As observações de Merkel são uma clara lembrança da relutância da Alemanha em preparar um pacote de resgate financeiro detalhado para a Grécia. Os ministros das finanças da zona do euro têm discutido um plano de contingência que poderia ser aprovado pelos líderes dos governos dos países da região na próxima semana em Bruxelas, mas as autoridades alemãs evitam concluir um plano, tampouco, esperam fazer qualquer anúncio nesse sentido no encontro na capital belga.
Em dezembro, o Banco Central Europeu (BCE) divulgou um documento dizendo que a expulsão de um país membro da zona do euro seria quase impossível pela lei da União Europeia (UE) e que a saída voluntária de um país do bloco implicaria também sua saída da UE.
Merkel tem dito que um mecanismo de expulsão – mencionado pela primeira vez como um dos poderes do Fundo Monetário Europeu (FME) sugerido pelo ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble – exigiria mudança no tratado da moeda única do bloco e a aprovação de todos os 27 membros da UE, não apenas dos 16 países da zona do euro.
Mas a obtenção de tal aprovação seria extremamente difícil, senão impossível. “Não acredito que tal mudança do tratado seja possível”, diz Simon Tilford, economista- chefe do Centro para Reforma Europeia, centro independente de pesquisa londrino.
Merkel acrescentou que medidas para reforçar a confiança dos mercados na Grécia devem ser tomadas por Atenas. “Não queremos a tomada de uma decisão precipitada, para uma ajuda sem efeito no longo prazo e que continuará enfraquecendo o euro”, observou. “Não podemos esquecer de que a situação grega não foi provocada por especuladores, foi agravada por especuladores”.
Merkel disse que a crise grega representa o maior desafio já enfrentado pelo euro e que expôs uma necessidade de regulação nova e abrangente. “Hoje não temos os instrumentos corretos”, disse Merkel. “Precisamos chegar a acordos que nos ajudem a evitar tal situação”, disse.
Ontem, Olli Rehn, comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da UE, disse que os planos de 14 países do bloco para reduzir seus crescentes déficits orçamentários contêm poucos detalhes e, em vários casos, os governos assumem uma perspectiva excessivamente otimista de melhora no clima econômico.
Os planos para reduzir o déficit orçamentário do Reino Unido, da França, da Itália e da Espanha contêm projeções macroeconômicas favoráveis para após 2010 que podem não se materializar, afirmou. “O plano orçamentário da Alemanha não é suficiente para levar a taxa da dívida [em relação ao PIB] para uma direção de baixa”, acrescentou.
A avaliação da Comissão Europeia para o plano de recuperação do Reino Unido é de que o governo não conseguirá atender as recomendações da União Europeia de retorno do déficit para 3% do PIB até 2014/2015. Também faltam detalhes sobre como o governo irá reduzir os gastos, observou Rehn sobre o plano britânico.
“A ausência de detalhes sobre limites de gastos é uma fonte de incerteza”, disse a comissão. “O contexto macroeconômico pode também ser claramente menos favorável do que o previsto no período programado”, afirmou.
O Reino Unido precisa evitar uma maior deterioração no déficit orçamentário de 12,7% do PIB estimado em 2009/2010 e acelerar medidas de aperto orçamentário, segundo Rehn.
Ontem, a Agência para Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês) informou que o desemprego no Reino Unido teve em fevereiro a maior queda desde novembro de 1997, elevando as esperanças de que a recuperação da economia britânica esteja ganhando velocidade. Segundo a ONS, o número de pedidos de auxílio-desemprego diminuiu 32,3 mil no mês passado, o que reduziu a taxa de desemprego para 4,9%, de 5% em janeiro.
O dado veio melhor do que a expectativa, que era de aumento de 500 pedidos de auxílio-desemprego em fevereiro e avanço da taxa para 5,1%. Analistas acreditam que o primeiro-ministro Gordon Brown deve ser beneficiado pelos números, enquanto se aproximam as eleições.