A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, vão discutir a estabilidade do euro em uma reunião em Freiburg, na Alemanha, na quarta-feira. A intenção é preparar caminho para uma cúpula da União Europeia, prevista para 16 e 17 deste mês.
Os dois líderes europeus provocaram críticas ao proporem um plano para fazer uma “mudança moderada” no Tratado de Lisboa e criar mecanismo permanente para crises em países da zona do euro a partir de 2013, proposta defendida atualmente pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE) Jean-Claude Trichet.
Na sexta-feira, Trichet saiu em defesa do euro ao garantir que a moeda, utilizada por 16 países da EU, não está em decadência. Já o membro do conselho diretor do BCE Ewald Nowotny descartou uma divisão da zona do euro em países bons e ruins, como chegou a ser sugerido durante a semana. A autoridade também disse que os países europeus prejudicados pela crise de dívida soberana serão apoiados por ajuda da região apenas temporariamente e precisam resolver os problemas sozinhos, por meio de cortes nos gastos e reformas estruturais.
Nowotny destacou que nenhum País da zona do euro pode contar com pacotes de ajuda europeia e suporte do BCE no longo prazo. “A Europa pode apenas oferecer ajuda temporária”, disse. A autoridade observou que o euro está sendo menos afetado pela crise de dívida soberana do que muitos pensam. Para ele, a atual volatilidade da taxa de câmbio da moeda ainda está dentro de faixas históricas normais.
Um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) destaca que os países da zona do euro precisam de um fundo de resgate maior e o Banco Central Europeu deve aumentar seu programa de recompra de dívida para evitar que a crise da dívida soberana de alguns dos países periféricos da zona da moeda comum atrapalhe a recuperação do bloco.
O secretário-geral do FMI Dominique Strauss-Kahn vai mostrar o documento sobre a economia dos 16 países que adotaram o euro numa reunião hoje com os ministros das finanças dessas nações e o presidente do BCE.
O FMI dirá aos ministros que, apesar do pacote de 85 bilhões de euros (US$ 114.1 bilhões) reunido pelo FMI e pela União Europeia para a Irlanda e os planos para criar um mecanismo permanente para solucionar crises serem bem-vindos, não são suficientes.
“Há também um argumento forte para que se aumentem os recursos disponíveis para essa rede de segurança e para tornar seu uso mais flexível, inclusive para dar apoio mais efetivo aos sistemas bancários”, diz o relatório.
A zona do euro tem um fundo de 750 bilhões de euros para ajudar governos que adotam a moeda única a se libertarem dos mercados financeiros. Em troca, esses governos devem realizar reformas e tomar medidas de austeridade fiscal.
A Espanha, apontada como próximo País a precisar de socorro, aprovou na sexta-feira novas medidas que incrementam seu pacote anticrise incluindo uma diminuição de impostos para as pequenas e médias empresas, o aumento da fiscalização sobre o tabaco e a privatização parcial da gestão dos aeroportos e loterias. Também acertou antecipar a aprovação da reforma da previdência para o próximo dia 28 de janeiro. A ministra da Economia, Elena Salgado, anunciou a aprovação do decreto lei que inclui estas medidas, afirmando que pretendem “melhorar a competitividade da economia” e que facilitarão “o desenvolvimento da atividade empresarial”.
Para evitar crise maior na Espanha e em Portugal, o BCE comprou na quinta e sexta-feira mais obrigações públicas irlandesas e portuguesas que o esperado, no valor de 100 milhões de euros, para reduzir os interesses desses títulos e estabilizar a região.
As compras coincidiram com o anúncio do presidente do BCE de que sua instituição vai manter o programa de compra de obrigações públicas.
Desde o começo do programa excepcional de compra da dívida pública em maio, em plena crise da dívida soberana grega, o BCE comprou 67 bilhões de euros em obrigações públicas. No entanto, para evitar um aumento da massa monetária em circulação, que incidiria na inflação, o BCE retira a cada semana do mercado quantidades equivalentes.
Mesmo assim, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s colocou em observação com implicações negativas os ratings de todos os bancos portugueses classificados por ela. Na terça-feira, a S&P colocou o rating soberano de Portugal em revisão para possível rebaixamento. Uma decisão sobre o rating dos bancos portugueses deverá ser tomada dentro de três meses.