Miguel Jorge diz que bom momento econômico dos países fará bloco andar mais rápido agora do que em 20 anos
Os quatro sócios do Mercosul vivem uma fase ímpar desde o início da década, caracterizada pela redução das brigas comerciais e pela recuperação de suas economias.
O Produto Interno Bruto (PIB) de cada um dos sócios plenos Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai vai crescer em torno de 7% este ano, segundo estimativa da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), apresentando as maiores taxas da região. O desempenho seria ainda mais significativo se a Venezuela que está a um passo de entrar no bloco nas condições dos outros quatro não estivesse mergulhada em uma grave recessão.
O bloco passou por momentos difíceis nos últimos anos, mas agora o momento econômico é tão bom que o Mercosul vai andar mais rápido do que em 20 anos passados prevê o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge.
Na visão de especialistas do setor privado e alguns integrantes do governo, porém, esta fase de bonança deve ser aproveitada para se dar uma nova roupagem à união aduaneira, não importa quem sair vencedor das eleições deste ano. Divergências são bem-vindas, destacou um embaixador brasileiro, desde que aproveitadas para o bem, como a integração produtiva e a formação de polos exportadores com a união das empresas dos países associados.
Usamos o tempo que perdíamos brigando para discutir como melhorar a integração produtiva resumiu o secretário de Comércio argentino, Eduardo Bianchi.
Receita de mais comércio e menos amarras diplomáticas A receita, de forma geral, consiste em mais comércio e investimentos e menos amarras, como a que obriga os países do bloco a só negociarem acordos de livre comércio em conjunto, e não separados. O diplomata Rubens Barbosa não se conforma com esse dispositivo.
Ele destacou que, em 2004, o Brasil não fechou um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE) porque a Argentina impôs restrições: Poderíamos ter concluído sozinhos essa rodada.
Miguel Jorge não concorda.
Acredita que o acordo só não foi fechado até agora porque os europeus não se entendem.
Países como França e Irlanda são fontes de resistência, especialmente quando se põe sobre a mesa a redução dos subsídios agrícolas.
Acabamos de fechar acordos com Israel e Egito. Até o fim do ano concluiremos as negociações com a Jordânia. Se não fechamos ainda com a UE, não foi por um problema nosso, mas deles afirmou o ministro.
Brasil e Argentina avançam na integração produtiva, e os argentinos são, desde julho, nossos segundos principais clientes, passando os Estados Unidos e só ficando atrás da China.
Argentina e Uruguai selaram a paz no conflito gerado pela instalação de uma fábrica de celulose, em solo uruguaio, na fronteira com a Argentina. Paraguai e Brasil já não brigam mais por causa da usina de Itaipu. Constroem, juntos, estradas e linhas de transmissão.
Venezuela só vai pegar carona, diz diretor da Fiesp Em meio a tudo isso, lamentou o diretor da Área Internacional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, chegam os venezuelanos, sem indústrias, com inflação nas alturas e alto endividamento.
O país ainda peca por não ter um parque industrial desenvolvido e por ser muito dependente do petróleo: A Venezuela só vai se aproveitar da situação, pegando carona em acordos comerciais com outros parceiros internacionais, sem pagar pedágio.
Para Rubens Barbosa, o Mercosul é importante mas precisa sofrer ajustes, com ou sem venezuelanos.
As mudanças devem ocorrer mediante a adoção de uma nova linha diplomática: O Mercosul precisa voltar às origens, seguir os cronogramas de redução tarifária.
O economista e diretor da Fractal Instituto de Pesquisa, Celso Grisi, lembrou que o Brasil, ao contrário dos demais sócios, tem uma indústria forte e diversificada, da qual poderia tirar vantagem: Brasil e a Argentina têm melhores condições de industrialização e devem aproveitar a fase para expandir o bloco.