A expectativa do mercado para a próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que será realizada amanhã e na quarta-feira, é unânime: o governo vai manter, pela quinta vez seguida, a taxa básica de juros, a Selic, em 8,75% ao ano. Entre as dez instituições ouvidas pelo Jornal do Commercio e as 13 ouvidas pela Agência Bloomberg, todas acreditam na manutenção na próxima reunião.
Outra unanimidade é que não há mais chance de os juros sofrerem corte ainda em 2010. A previsão de especialistas é que pelo menos em abril comecem os movimentos de alta, mas não há consenso, porém, quanto à data certa para isso.
O motivo do governo para o aumento da Selic apontado pelos especialistas seria conter uma possível escalada da inflação, cuja meta está em 4,5% no ano. O receio é de que a capacidade produtiva do País não acompanhe a demanda, causando inflação. A projeção do último Boletim Focus do Banco Central é de uma taxa básica de 11% em 2010. Há no mercado, porém, analistas que estimam taxas que podem chegar a 12,25% ao ano.
Das empresas ouvidas pelo Jornal do Commercio, sete estimaram o percentual da Selic para o ano. A corretora Ativa é a que vislumbra a taxa mais alta, de 12,25%. Em segundo lugar vem a MCM Consultores Associados, que acredita nos juros básicos em 11,75%; seguida da corretora do Banco Safra, que prevê juros em 11,50%; da Link Corretora e da Concórdia, que preveem 11,25%; da RC Consultores, com 10,25% e da Tendência Consultoria, com 10%.
INDÚSTRIA. A MCM Consultores Associados antecipou em três meses sua perspectiva de alta para a Selic, de julho para abril. A consultoria estima que, em abril, o BC vai aumentar em 0,5 ponto percentual a taxa, que ficará em 9%. De acordo com o economista da companhia Leandro Padulla, os dados da produção industrial de novembro, que apresentou avanço ante outubro em nove dos 14 locais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram o motivo para a antecipação da previsão.
Padulla explicou que a produção de novembro surpreendeu positivamente os especialistas, mas deu mostras de que a indústria está “andando rápido demais”. “Quando for fechado o número de 2009, a indústria terá crescido acima do seu potencial e isso gera inflação. O governo elevará as taxas em um movimento claro de contenção de uma possível alta dos preços”, afirmou Padulla.
O economista-chefe da RC Consultores, Fábio Silveira, acredita que no primeiro semestre haverá pressão de alta nos índices de inflação por conta do aumento de preços de serviços e das commodities que têm suas cotações definidas no mercado internacional. A valorização da moeda americana frente à brasileira contribuirá para o encarecimento das commodities, explicou ele.
Silveira ressaltou, porém, que é um movimento normal e que ainda é cedo para aumentar a taxa básica de juros. De acordo com ele, vai haver alta de preços de um conjunto de produtos, o que não necessariamente significa inflação. “Não é para tanto. Isso não necessariamente se configura em quadro persistente de alta de inflação”, argumentou Silveira, para quem a Selic fechará 2010 em 10,25%.
JUROS. O economista-chefe da RC Consultores alertou para o que chamou de “o perigo de se comprometer com processo de alta de juros, cujo limite é difícil de precisar.” Ele disse temer a possibilidade de o BC não estar certo quanto ao limite de alta da Selic, lembrando que, além de encarecer o crédito à população, as taxas mais altas encarecem também a dívida pública. “Esse temor de se combater logo uma possível inflação existe entre os radicais, os paranóicos por Selic.”
O economista da Tendência Consutoria Bernardo Wjuniski, por sua vez, acredita que o governo só aumentará a Selic em setembro. Segundo analisou, os preços administrados, que são aqueles reajustados com base no Índice Geral de Preços (IGP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), como as tarifas de transporte público e o valor dos aluguéis de imóveis, por exemplo, possivelmente não sofrerão reajustes, já que o IGPM fechou o ano passado com deflação de 1,7%.
“Na realidade, nunca houve deflação do IGP, mas nossa previsão é que por conta disso não haja reajuste nos preços administrados neste ano. Como os riscos inflacionários vão demorar a se materializar, acreditamos que a alta da Selic também vá”, afirmou Wjuniski.
O economista disse acreditar que há ainda capacidade ociosa na indústria brasileira. De acordo com ele, devido ao processo de crescimento econômico verificado em 2006 e 2007, as empresas investiram muito em aumento de capacidade. Nos dois anos seguintes, a crise fez com que o consumo retraísse sensivelmente e essas empresas ficaram com muita capacidade ociosa. Agora, com a retomada da economia, as companhias voltaram a utilizar o que ficou parado durante a crise.
Para Wjuniski, não haverá, no curto prazo, oferta descasada com a demanda. Segundo ele, um possível aumento do consumo não se chocará com a capacidade da indústria. “A ociosidade que ainda existe vai ser utilizada de forma gradual. Esse é mais um fator que vai diminuir os riscos de inflação e postergar o aumento da Selic.”