O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a alertar ontem para os riscos do “excesso de euforia” dos investidores internacionais em relação ao Brasil. Ele afirmou que a situação é positiva porque gera aumento dos investimentos estrangeiros diretos no país e cria novas oportunidades de captação e emissão de ações por parte das empresas brasileiras, mas lembrou que a valorização do real afeta a rentabilidade das exportações e que o mercado não deve “apostar num lado só”, numa referência às operações com derivativos que provocaram perdas bilionárias quando a crise estourou no fim do ano passado.
“O mercado internacional corre o risco de estar um pouco eufórico demais com o Brasil”, afirmou Meirelles durante exposição para empresários gaúchos na Federação das Associações Comerciais do Estado (Federasul). Ele não concedeu entrevista, mas na palestra também admitiu que a revisão para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) que será feita pelo BC no fim de junho poderá ser “um pouco conservadora”.
O presidente do BC afirmou ainda que o país terá de enfrentar novas turbulências provocadas pela divulgação de indicadores com alguma “defasagem”. “Números negativos ainda virão”, afirmou. De acordo com ele, a apresentação em junho do desempenho do PIB do primeiro trimestre, que será baixo, vai provocar “oscilações de humor” do mercado quando já há sinais de recuperação da economia.
Mesmo assim, Meirelles também reiterou que o Brasil sairá “mais forte da crise” em comparação com outros países. Ele citou, como exemplo, a recomposição das reservas internacionais do país no dia 28 de maio para os mesmos US$ 205,1 bilhões de agosto, a retomada do crédito para a média diária de R$ 7,2 bilhões em abril, levemente acima do nível anterior à crise, e ainda o crescimento das vendas no varejo nos últimos meses e a relativa contenção da taxa de desemprego.
Meirelles também ressaltou a redução da taxa básica de juros reais para o piso histórico de 5,2% no mês passado e rejeitou a pecha de que o BC seria “excessivamente conservador” na condução da política monetária. “A taxa de juros sempre pode ser mais baixa, mas o importante é a trajetória cadente permitida pela estabilidade da economia”. Segundo ele, apesar do alegado conservadorismo do Banco Central, somente em um ano desde 2004 (em 2007) a inflação ficou no piso da meta.