A forte desvalorização do real frente ao dólar, que rompeu neste mês a barreira dos R$ 3, tem trazido um alento para setores da indústria brasileira, sobretudo para os exportadores, que começam a mirar uma alta na rentabilidade e a enxergar novas oportunidades de mercado – apesar do baixo crescimento da economia brasileira, que em 2014 teve expansão de apenas 0,1%.
Muitos setores ainda sofrem com a falta de competitividade do produto nacional e com a queda dos preços das commodities no mercado mundial. Mas empresas como a Fibria, com mais de 90% da produção destinada a exportações, tem se beneficiado, e muito, com o câmbio.
“Não fazemos projeções, mas o câmbio, do jeito que está, realmente é muito bom. A desvalorização do real tem um efeito muito positivo para nossa receita e, consequentemente, mais positivo ainda na nossa geração de caixa”, afirma Guilherme Cavalcanti, diretor de finanças e relações com investidores da Fibria, a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo.
A gigante brasileira foi criada em 2009, após incorporação da Aracruz pela VCP.
Exemplo raro na indústria brasileira, a companhia tem como foco o mercado externo e a base de sua receita em dólar. Ou seja, qualquer desvalorização do real favorece diretamente o caixa da empresa.
“Praticamente 100% da nossa receita é em dólar e 85% dos nossos custos são em reais. Quando o real se desvaloriza, a nossa receita em reais aumenta muito, nosso custo em reais não mexe, e a gente tem um aumento de geração de caixa”, explica o diretor.
Ele afirma que, para cada 10% de desvalorização do real, a geração de caixa da empresa aumenta em quase 20%. “Como o real já se desvalorizou quase 20% neste ano, a nossa geração de caixa aumentou em torno de 40%”, estima Cavalcanti.
Segundo levantamento da Economatica, a Fibria foi a 8ª empresa que mais se valorizou em 2015, saltando de um valor de mercado de R$ 17,98 bilhões no final de 2014 para R$ 22,14 bilhões no fechamento do dia 24 de março.
Dados da associação que representa o setor, a Ibá, mostram que as exportações de celulose subiram 19,9% em fevereiro na comparação com o mesmo mês de 2014. No primeiro bimestre de 2015, o volume embarcado (para exportação) totalizou 1,8 milhão de toneladas, um crescimento de 6,3%.
A companhia fechou 2014 com uma receita líquida de R$ 7 bilhões, sendo R$ 6,4 bilhões em exportações. O lucro reportado foi R$ 163 milhões, contra um prejuízo de R$ 698 milhões em 2013.
“Enquanto ficar essa oscilação, vai ser muito difícil perceber um aumento efetivo nas exportações. A volatilidade prejudica todo cálculo de custos e gera muita insegurança na hora de fechar negócios”, diz Faria.
Ele destaca que a disparada da moeda norte-americana tem sido anulada ou mitigada em muitos setores pela queda no valor dos itens exportados.
Levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) aponta que os preços médios das exportações brasileiras em fevereiro caíram 17,6% na comparação com fevereiro de 2014. Os preços de algumas commodities estão no nível mais baixo desde novembro de 2009.
No acumulado no ano até 22 de março, a balança comercial brasileira acumula um déficit de US$ 6,28 bilhões. O resultado é pior que o registrado no mesmo período do ano passado, quando as importações superaram as exportações em US$ 6,25 bilhões.
Segundo o vice-presidente da ABE, o câmbio não é o único problema da falta de competitividade da indústria brasileira. “O grande problema é que estamos perdendo mercado. A América do Sul continua sendo o grande mercado de exportação da indústria brasileira, e os dois principais destinos – Argentina e Venezuela – atravessam um período muito complicado”, afirma.
No ano passado, a Fibria produziu 117% da energia de que precisou na produção em suas fábricas em Aracruz (ES), Jacareí (SP) e Três Lagoas (MS).
“O preço está subindo este ano. Fechou em 2014 em US$ 742 a tonelada e nesta semana está em US$ 756 na Europa”, destaca o diretor da Fibria Guilherme Cavalcanti.
“A celulose é uma commodity baseada no consumo e não depende muito do comportamento do PIB e de investimentos em infraestrutura como o minério de ferro, o cobre ou o níquel”, acrescenta.
Os principais compradores de celulose de eucalipto no mundo são os fabricantes de papel e as empresas do setor de higiene. Hoje, 55% das vendas da Fibria tem como destino fabricantes de papéis sanitários (papel higiênico, guardanapos, toalha de mesa etc.).
No mundo, as vendas da commodity cresceram 11% em 2014, puxada sobretudo pelos países emergentes como China, cujo consumo tem crescido nos últimos anos a taxas anuais superiores a 20%.
“A Europa, apesar de toda a crise que passou, continua sendo nosso principal cliente, com participação de 41% nas nossas vendas. Em seguida vem Ásia com 25%, Estados Unidos com 24% e a América Latina com 10%”, detalha Cavalcanti.
“Aqui, a árvore de eucalipto demora 6 anos para crescer e chegar na idade de corte, enquanto que na Europa demora 25 anos. É também por isso que falamos que somos um dos setores mais imunes a crise no Brasil”, afirma o diretor da empresa.