O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que vai analisar a possibilidade de fazer mudanças no cálculo do rendimento da caderneta de poupança depois de se reunir com os técnicos da área econômica. “Eu tenho que voltar para o Brasil, fazer uma reunião com a equipe econômica, para ver como fica a caderneta”, declarou Lula, em entrevista a jornalistas brasileiros antes de deixar Nova York e retornar a Brasília.
A preocupação com o rendimento da poupança é das instituições financeiras. Depois do corte da taxa básica de juros na semana passada, os juros da caderneta ficaram mais atrativos do que os dos títulos públicos. O efeito pode ser uma migração de dinheiro dos fundos de investimento (FIFs) para a poupança. Para o governo, isso pode significar maior dificuldade para vender títulos e administrar a dívida pública.
Segundo o presidente, nada será decidido antes da reunião. Mas Lula não demostrou preocupação com qualquer alteração que possa vir a ocorrer. “Nos já mexemos na poupança dois anos atrás, quando descobrirmos que gente que tinha muito dinheiro queria investir na poupança. Mexemos para garantir a poupança apenas para os pequenos poupadores.”
Desafio
Mas cedo, em um seminário com investidores norte-americanos e brasileiros em Nova York, o presidente brasileiro disse que o principal desafio enfrentado pela economia mundial é manter o acesso ao crédito, apesar da crise. “Temos um problema no mundo chamado acesso ao crédito”, disse Lula durante um encontro com empresários. “Necessitamos restaurar o fluxo (de crédito) para que se restabeleça o comércio mundial”, acrescentou.
“Temos que resolver os problemas de confiança e não vejo como, se não fizermos algo com os bancos”, afirmou. Lula opinou que o assunto será uma das questões cruciais a serem tratadas na reunião do G20 prevista para Londres no próximo 2 de abril.
Segundo Lula, a classe média é a principal vítima da crise. “São os que mais se beneficiaram com o boom, melhoraram seu nível de vida e ganharam direitos em geral, mas são os mais expostos a perder o conquistado”.
PIB reduzido
O presidente brasileiro também admitiu no seminário que o Brasil vai crescer este ano, embora com taxas reduzidas.
Já o banco americano Morgan Stanley anunciou ontem que revisou sua projeção para o PIB brasileiro, prevendo contração de 4,5% na economia em 2009; a estimativa anterior previa um crescimento zero. Segundo as previsões da equipe de economistas para a região do banco, a contração da economia brasileira deve acontecer em meio à pior recessão na América Latina desde 1983. De acordo com essas estimativas, o PIB real da América Latina deve registrar um encolhimento de 4,3% neste ano – uma projeção também revisada para baixo.
O banco atribuiu a revisão do PIB brasileiro ao fraco desempenho no último trimestre do ano passado da economia, aos sinais de desaceleração da atividade no primeiro trimestre e aos temores de que o cenário mundial possa se mostrar pior do que o antecipado.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também participou do seminário, afirmou que a queda do PIB, de 3,6%, no último trimestre do ano passado é apenas parte do quadro econômico de 2008. “A queda do PIB no último trimestre de 2008 foi forte, mas havia crescimento positivo nos anteriores, enquanto outras economias já estavam desacelerando desde o início de 2008.”, disse.
Nacionalizações
Na opinião do presidente Lula, os EUA devem superar o preconceito sobre a nacionalização de instituições financeiras e procurar agir rapidamente para restaurar o fluxo de crédito do consumo e das empresas. “Aqui nos Estados Unidos eu sei que a palavra nacionalização é tabu”, disse Lula aos jornalistas. “Mesmo que esta palavra seja proibida aqui, é necessário restaurar o crédito para sustentar o comércio.”
Embargo a Cuba
Lula reiterou ontem que não vê razão para os EUA manterem o embargo econômico a Cuba.
“Não existe mais, do ponto de vista político, do ponto de vista sociológico, do ponto de vista da racionalidade humana, nada mais que impeça o restabelecimento das relações com Cuba”, disse Lula durante o seminário.
O presidente brasileiro acrescentou que líderes da América Latina esperam que os EUA evitem a volta das políticas intervencionistas do passado, apontando a eleição do presidente Barack Obama como uma oportunidade.