Tentando fazer as pazes com o setor exportador, com quem andava estremecido desde que declarou preferência pelo desenvolvimento do mercado interno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou a agenda lotada de eventos na segunda-feira, no Rio de Janeiro, em um jantar da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex).
Em seu pronunciamento, que começou perto da meia-noite, o presidente frisou aos empresários que não pensa em reduzir os impostos. “Vou deixar claro para vocês: não imaginem um país com carga tributária fraca. Não tem um país do mundo em que o Estado possa fazer alguma coisa que não tenha uma carga tributária razoável”, afirmou.
Apesar de os atos do governo demonstrarem opções nessa linha, raras vezes o presidente foi tão enfático. A crise, segundo Lula, teria deixado claro que é necessário um Estado mais atuante. “É bobagem alguém ter medo de um Estado forte. O Estado não pode ser intruso, é diferente. O Estado não pode querer ser gestor, mas ele tem que ser o indutor e o fiscalizador de muitas coisas, a crise mostrou isso”. Segundo ele, nesse quadro, é necessário escolher como se quer arrecadar: “Ou cobra na produção ou cobra no Imposto de Renda”, afirmou.
Enquanto desagradava os empresários ao falar dos tributos, Lula tentou compensar, em certa medida, dizendo-se preocupado com outro tema fundamental para as exportações: o câmbio. O presidente lembrou que o governo tem tentado fazer a sua parte. “Criamos o IOF para criar essa dificuldade. Agora, se o câmbio é livre, eu não posso fazer nada. Ele vai flutuar mesmo. Nós temos é que adotar todos os mecanismos necessários para dar a chance de competir com qualquer país do mundo”.
china. Ainda em seu discurso, o presidente chamou a atenção para a competição com a China. Ele contou que pediu ao presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, que fizesse um estudo para entender por que produtos chineses chegam aqui pela metade do preço dos brasileiros.
“Eu quero que os navios da Vale do Rio Doce sejam feitos no Brasil. Para isso, o preço do estaleiro brasileiro tem que ser, no mínimo, próximo, não pode ser o dobro.” O presidente reconheceu que, se o preço for o dobro, é natural que prevaleça o “interesse empresarial”.
Ontem, também no Rio, o presidente Lula voltou a tratar de temas econômicos. Ele garantiu que, no próximo ano, a inflação estará controlada, assim como os juros. “A economia vai continuar crescendo, o emprego vai continuar crescendo e o Brasil vai continuar melhorando”, disse.