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18 de abril de 2024Quatro pessoas estão presas – dois sócios da Boate Kiss, Mauro Londero Hoffmann e Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko; e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e produtor Luciano Augusto Bonilha Leão – por suspeita de terem contribuído para o incêndio, na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), que provocou a morte de 231 jovens, na segunda maior tragédia com fogo da história do país. À noite, o juiz Afif Simões Neto determinou liminarmente o bloqueio de todos os bens dos sócios da Boate Kiss. A ação, proposta pela Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, visa garantir futuras indenizações a familiares e vítimas.
De acordo com o delegado Sandro Meinerz, que preside as investigações, eles tiveram as prisões temporárias decretadas pelo juiz Regis Adil por cinco dias. Além de tomar o depoimento de Hoffmann e Sphor, que deixaram a cidade logo após o início do fogo, a polícia apura o suposto sumiço das imagens do sistema de segurança da casa de shows. Peritos da Polícia Civil, que trabalham no local desde a manhã de ontem, querem saber se as imagens foram apagadas ou se as câmeras não estavam gravando no momento do incêndio.
Atuando em diferentes frentes para juntar o quebra-cabeça da tragédia, a polícia inclui também nas investigações a análise das postagens em redes sociais. “O trabalho do grupo de inteligência de Porto Alegre, com o apoio da polícia de Santa Maria, coleta informações também nas redes sociais. Qualquer tipo de depoimento ou informação está sendo buscado para que possa servir de provas futuras”, afirmou o delegado Emerson Wenddi, do setor de inteligência da Polícia Civil de Porto Alegre.
A busca de indícios de responsabilidade se estendeu também ao carro de Kiko Spohr, que abandonou sua caminhonete F-250 branca no estacionamento de um supermercado em frente à boate. “Ele disse que deixou o local de carona, por medo de retaliações”, informou o delegado Meinerz. A perícia isolou o carro e também um pequeno reboque que continha instrumentos da banda. Na madrugada, policiais arrombaram um cadeado que fechava o reboque. A suspeita era de que poderia haver mais sinalizadores, mas só foram encontrados instrumentos musicais. Outros carros estacionados no subsolo foram numerados com etiquetas pelos policiais, pois podem ser de vítimas da tragédia.
LARANJA Pela manhã, um dos donos da boate, Kiko Spohr confirmou à polícia que o alvará de funcionamento da casa estava vencido, mas que já havia providenciado a renovação. A suspeita da polícia é de que o estabelecimento, palco da tragédia, esteja registrado em nome de laranjas, que seriam a mãe e a irmã de Spohr. Quando foi localizado pelos policiais, o comerciante estava internado em um Hospital de Cruz Alta, onde se recupera por ter inalado fumaça, sob custódia do estado. Ele estava na boate no momento do incêndio, no entanto seu estado de saúde é regular e ele deve ser liberado em dois dias, quando será levado para a cadeia de Santa Maria.
Segundo o delegado Meinerz, durante todo o tempo Spohr se esquivou da responsabilidade pela tragédia. Ele atribuiu o início do fogo aos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que usaram um equipamento conhecido como Sputnik, cujas faíscas atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo. Ele negou que os seguranças tenham tentado evitar a saída dos jovens da casa.
O outro sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, chegou à Delegacia de Polícia Regional da cidade acompanhado por sua mulher e seu advogado. Ele apenas disse : “Não tenho parte nisso. Não contratava nem demitia pessoas. Não tinha poder gerencial, era apenas sócio financeiro da Kiss, com 50% das ações”. Confessou, no entanto, que é dono de outra boate na cidade, a Absinto Hall. Esquivando-se mais uma vez, o empresário ressaltou que o uso de pirotecnia é expressamente proibido em sua outra casa, mas “nem sempre as bandas informam o que vão apresentar no show”.
Os dois integrantes do grupo, o vocalista Marcelo Santos e Luciano Leão, produtor do grupo, foram presos em Mata (RS), de acordo com o Tribunal de Justiça do estado. No entanto, eles optaram por se manifestar oficialmente só após a conclusão do inquérito. O delegado Meinerz explicou que “as prisões são para possibilitar as investigações dos fatos em todas as suas nuances”.
PROVAS ADULTERADAS O Ministério Público estadual disse ontem que suspeita de que houve adulteração de provas que comprovariam supostas irregularidades na Boate Kiss. De acordo com procuradores, os donos da boate não forneceram imagens das câmeras internas e tampouco repassaram os registros da caixa registradora, que poderiam comprovar o número de pessoas que entraram no local durante a noite. Segundo o depoimento de 17 testemunhas e imagens analisadas pela perícia, devia haver mais de 1,5 mil pessoas no local. A polícia afirma que a capacidade máxima aprovada para a boate é de mil pessoas.
Os promotores acham que ainda não há evidências para responsabilizar agentes públicos, como fiscais da prefeitura, por exemplo, por permitir a realização da festa e o funcionamento da casa. Ao lado da Polícia Civil, o que o Ministério Público quer é identificar os responsáveis pela série de erros que potencializou a tragédia, como a falta de uma saída de emergência e de sinalização luminosa. Podem ser responsabilizados pela tragédia os donos da boate, empresas de segurança, integrantes da banda, prefeitura e Corpo de Bombeiros.
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) acompanhou ontem os enterros de parte das vítimas da tragédia. “O primeiro momento era de resgate. A segunda fase foi a luta para preservar a saúde dos que ficaram feridos. Entramos agora na terceira fase, que é a apuração. Queremos que o caso seja investigado à exaustão, que dele possam decorrer mudanças na legislação federal, estadual e municipal”, afirmou o governador.