O Brasil está brilhando entre os mercados emergentes, atraindo fatias consideráveis de um investimento estrangeiro que está cansado de ganhar pouco em fundos de curto prazo dos EUA e da Europa e que busca antecipar uma melhora da economia global. O principal sinal desse desembarque maciço de recursos aparece na Bovespa, onde o saldo de estrangeiros disparou em março, abril e maio, acumulando R$ 7,112 bilhões no ano até dia 13. Como consequência, o Índice Bovespa saiu de 36 mil pontos em fevereiro, bateu 52 mil pontos em maio e fechou na sexta-feira aos 49 mil pontos.
E o interesse continua. Apesar de a forte valorização da bolsa brasileira acender a luz amarela quanto ao descolamento entre preço e fundamentos, os fundos de ações internacionais voltados ao Brasil continuaram atraindo recursos durante a segunda semana de maio. É o que mostram os dados da EPFR Global, consultoria que acompanha a movimentação global de fundos.
Os fundos estrangeiros com foco no Brasil receberam mais de US$ 100 milhões na semana encerrada dia 13 maio. Em oito semanas, o valor captado passa de US$ 1,8 bilhão, elevando o saldo acumulado no ano para US$ 2,26 bilhões (R$ 4,746 bilhões). A diferença entre o saldo de estrangeiros da Bovespa e o da EPFR se deve ao fato de que muitos bancos e fundos de pensão investem diretamente por meio de corretoras.
Nos fundos de ações da América Latina, grupo no qual o Brasil é destaque, o saldo líquido na semana atingiu US$ 350 milhões. Só em maio, a categoria já ganhou mais de US$ 1 bilhão. Na semana, todos os fundos de ações emergentes receberam US$ 3,5 bilhões, marcando a décima semana consecutiva de entrada de recursos. Nesse período, o total captado passa dos US$ 18,6 bilhões.
O recuo do Índice Bovespa na semana passada, de 4,65%, mostra, porém, que alguns estrangeiros começam a colocar no bolso os ganhos recentes, vendendo principalmente as ações de commodities e bancos, diz Márcio Rochwerger, diretor executivo do Morgan Stanley do Brasil. “Mas ainda vemos estrangeiros comprando empresas menores, as ‘small caps’, que têm múltiplos baratos em relação às blue-chips”, diz. Com isso, o papel preferencial (PN, sem voto) da Petrobras, que chegou a subir 46,15% no ano até dia 8, caiu 5,15% semana passada. Vale PNA, depois de acumular 39,39%, perdeu 4,82%. “Muitos analistas de bancos também notam que os preços das ações de commodities e bancos já estão ficando caras”, diz.
Nessa rotação, como as “small caps” têm menor peso no Ibovespa do que os papéis de commodities, o índice recua. Parte do dinheiro também volta para o exterior.
As próximas semanas serão fundamentais para que se possa definir se o fluxo de estrangeiros vai continuar ou entrar em compasso de espera, afirma Heitor de Souza Lima, diretor-geral da Franklin Templeton Investments no Brasil. “Esses investidores vêm em ondas, em busca de ativos de maior risco, e agora deu essa diminuída na semana passada”, diz, lembrando que o volume negociado na Bovespa caiu, outro sinal de menos estrangeiros.
Segundo ele, havia um estoque muito grande de recursos parados em fundos de curto prazo, os chamados “money market”, que, com os juros americanos em 0,25% ao ano, procuram outras oportunidades ao menor sinal de melhora dos mercados. Apesar do impacto no mercado, Lima acha que o volume de recursos que entrou no Brasil ainda foi pequeno – no ano passado, o saldo de estrangeiros na Bovespa foi negativo em R$ 24 bilhões. “Mas como o mercado estava muito depreciado, qualquer coisinha faz os preços dispararem”, explica. Para ele, o grosso dos investimentos só virá quando houver uma melhora consistente do cenário internacional.
Ainda entre os emergentes, o destaque, pela terceira semana seguida, ficou com a Ásia (exceto Japão), que absorveu US$ 1,9 bilhão no período. A China concentrou esse fluxo, mas a EPFR Global notou valores decrescentes entre os dias 7 e 12 de maio, reflexo da divulgação de queda nas exportações do país. Os diversificados fundos de mercados emergentes globais (GEM, na sigla em inglês) captaram US$ 1,18 bilhão, enquanto os emergentes da Europa, Oriente Médio e África (EMEA, em inglês) levantaram US$ 145 milhões.
Já os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), que perderam força em meados do ano passado, deram continuidade ao seu renascimento. O grupo captou em nove das últimas dez semanas, acumulando US$ 686 milhões em 2009.
Outra indicação de que o apetite por risco continua subindo é que os fundos de bônus de alto retorno (High Yield) captaram US$ 1,14 bilhão na semana. Foi a maior soma já registrada desde que a EPFR Global criou a categoria.
Não só os emergentes ganharam dinheiro. Os fundos com foco nos mercados desenvolvidos tiveram uma das melhores semanas do ano. Os de ações do Japão registraram captação de US$ 205 milhões, a maior desde o fim do terceiro trimestre de 2008. Já os dos Estados Unidos receberam US$ 2,6 bilhões, a melhora semana do ano. Ainda assim, a cifra é pequena levando-se em conta que, no acumulado de 2009, os fundos de ações dos EUA perdem US$ 49 bilhões.
Os fundos com foco no mercado alemão levaram os fundos de ações da Europa a fechar a semana com resultado positivo. No entanto, a EPFR Global acredita que essa recuperação, reflexo de uma aposta na possível retomada das exportações alemãs, mascara a falta de entusiasmo generalizado com a região, que é vista como uma das menos ágeis nas respostas à crise.
No computo geral, todos os fundos de ações acompanhados pela consultoria receberam US$ 9,54 bilhões durante a semana e todos os de renda fixa captaram US$ 4,1 bilhões. Tendo em vista que os “money market funds”, que buscam investimento de curto prazo e baixo risco, também receberam dinheiro, a EFPR Global aponta que os agentes devem ter lançado mão de outras reservas para fazer seus investimentos.