A queda da Selic poderia se mais rápida do que a praticada pelo Banco Central, afirma a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A conclusão não está baseada apenas na percepção de que o nível de atividade ainda sofre com a crise. A federação preparou um estudo amplo, baseado em dados internacionais, que aponta que não há no Brasil uma persistência inflacionária maior do que em outros países emergentes, um dos argumentos para justificar uma queda menor dos juros.
De acordo com o estudo, para o período compreendido entre janeiro de 1999 e janeiro de 2009, o grau de persistência do IPCA no Brasil está em 0,65 – o índice foi obtido por uma metodologia econométrica que identifica na série de dados mensais da taxa de inflação, quando há um choque inflacionário em determinado mês, se este é transmitido ou não para os meses seguintes em cada país.
No México, por exemplo, essa taxa é de 0,70 e na Turquia, 0,92. “O Brasil é um dos países que apresentam menores transferências de inflação de um mês para o outro. Os resultados mostram que o grau de persistência da taxa de inflação está em patamares próximos aos de outras economias emergentes”, disse Walter Sacca, diretor-adjunto do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da entidade.
Segundo ele, esse levantamento da federação vai de encontro à justificativa do Banco Central de que a rigidez de preços e a memória inflacionária seriam impeditivos para uma maior redução da Selic, argumentos apresentados no Relatório de Inflação de Dezembro de 2008 do BC, lembra o diretor da Fiesp.
Além baixa persistência inflacionária, o dirigente avalia ainda que o fraco desempenho econômico dos últimos meses reduz o espaço para repasses de custos, reduzindo pressões inflacionárias. Sacca lembra ainda que a entrada de capitais dá mais tranquilidade para o comportamento da inflação por conta do câmbio. “O ritmo de queda pode ser mantido ou ligeiramente aumentado, não diminuído”, disse.
Na última reunião do Copom, a autoridade monetária reduziu a Selic em um ponto percentual, para 10,25% ao ano. A expectativa do mercado é de nova queda, entre um e 0,75 ponto, no encontro que se encerra amanhã. “Nada do que vemos na economia, como o fraco desempenho da atividade econômica e do emprego, justificaria diminuição da velocidade. Ao contrario, a velocidade deveria ser acelerada para 1,5%”, avalia Sacca.
Por fim, ele lembra que em momentos de alta da inflação, a justificativa do Banco Central para elevação da Selic é sempre o juro esperado no futuro. Agora, segundo ele, a meta de inflação para este ano e o próximo estão abaixo da meta. “O Banco Central deveria olhar para a taxa esperada no futuro, que indica queda da inflação, para se sentir a vontade para acelerar a redução da Selic”.
O receio do dirigente é que os juros em patamares ainda altos comprometam a recuperação da economia brasileira. Para ele, a retomada ainda não começou e, quando vier, será lenta e gradual. “A redução da Selic serve para evitar que a situação piore ainda mais e também para criar condições mais favoráveis para o inicio da retomada do crescimento”.
Na avaliação da Fiesp, a melhora pode até começar no segundo semestre, mas não chegará ao mesmo nível do ano passado. “No cenário mais otimista, prevíamos que a queda da produção física na indústria seria de 5%. Mas vamos rever esses números para baixo nos próximos dias”.