A Grécia está paralisada nesta terça-feira por uma greve geral de 48
horas, com centenas de milhares de trabalhadores cruzando os braços
antes de uma importante votação no Parlamento sobre cortes de gastos do
governo que o país deve realizar para escapar de um default. É a segunda
greve geral a atingir o país este mês. Houve confrontos em Atenas nesta
terça-feira, entre dezenas de jovens anarquistas e a polícia, nas
proximidades do Ministério das Finanças.Os manifestantes usaram
coquetéis molotov, atearam fogo a cestos de lixo e quebraram pedras do
asfalto para lançar na polícia. A polícia reagiu com bombas de gás
lacrimogêneo e de efeito moral para dispersar os mais violentos. Há
relatos de pelo menos uma pessoa ferida.
A paralisação é convocada pelas duas maiores centrais sindicais
gregas, contrárias aos cortes vistos como cruciais para a estabilidade
financeira da zona do euro.
Em jogo está um plano de austeridade de cinco anos, com previsão de
cortes de 28 bilhões de euros e um programa de privatização relacionado,
que Atenas precisa aprovar em troca de nova ajuda de seus parceiros da
União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Falando no
final da noite a parlamentares nesta segunda-feira, o contestado
primeiro-ministro socialista George Papandreou apelou aos parceiros do
país na Europa para que deem mais tempo e dinheiro para os gregos
equilibrarem suas finanças, enquanto ele tenta obter apoio entre os
membros de seu próprio partido.
“Agora é a hora de responsabilidade para todos nós. Eu sei que o
grupo parlamentar socialista fará seu trabalho”, afirmou Papandreou.
“Nós pedimos à Europa que faça o mesmo – dê tempo à Grécia, mas também
as condições que permitam ao país realmente pagar suas dívidas sem
naufragar.”
Os comentários foram feitos no início de um período de dois dias de
debates sobre o plano de austeridade do governo, que deve se encerrar
com a votação ao meio-dia de quarta-feira. O Partido Socialista controla
uma maioria de 155 deputados, no Parlamento grego de 300 membros. Porém
pelo menos quatro parlamentares socialistas já demonstraram reservas ao
avaliar o pacote.
Os serviços públicos estavam paralisados por todo o país, com
escritórios dos governos central e locais fechados. Hospitais públicos
funcionavam em esquema de plantão e as operações do correio estavam
suspensas.
Escolas e universidades também estavam fechadas, com dezenas de
milhares de professores parados. Também havia greve nas empresas
estatais – muitas das quais devem ser privatizadas, caso os novos planos
sejam aprovados -, e também alguns funcionários em bancos, jornalistas e
farmacêuticos faziam suas próprias paralisações.
Os serviços de transporte foram bastante afetados. As operações
ferroviárias e por ferry estavam suspensas, e os controladores do
tráfego aéreo planejaram uma série de paralisações que levaram ao
cancelamento de dezenas de voos. O transporte público no entorno da
capital, Atenas, estava paralisado, com apenas o metrô operando para
permitir que os trabalhadores se juntem às grandes manifestações
previstas para ocorrer ainda nesta terça-feira.
Em comunicado, a central sindical do setor público, ADEDY, afirmou
que a greve seria um “catalisador” para reverter o plano de austeridade
do governo. Na opinião dessa central sindical, a Grécia deve escapar dos
“tubarões” que concedem empréstimos e também das “políticas do governo
que se empenham em vender o país”.
Em maio do ano passado, a Grécia escapou por pouco de um default com o
auxílio de um pacote de 110 bilhões de euros de seus parceiros da zona
do euro e do FMI, em troca de reformas fiscais e econômicas. Porém ainda
enfrenta preços proibitivos nos mercados internacionais, por isso
deseja um novo pacote de ajuda de 100 bilhões de euros para cobrir suas
necessidades de empréstimo para os próximos três anos. A União Europeia e
o FMI, porém, exigem que os gregos aprovem o plano de austeridade,
implementem leis e realizem um programa de privatizações estimado em 50
bilhões de euros, antes de receber mais ajuda.