Com o crescimento econômico mais baixo do que o esperado em 2011, o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, já começou a traçar com sua equipe
uma estratégia para acelerar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB)
para 4,5% este ano, nível mínimo que cobra a presidente Dilma Rousseff.
Novas medidas voltadas para o estímulo ao crédito deverão ser
acionadas mais uma vez para garantir um crescimento maior, sobretudo no
segundo semestre deste ano.
Ainda tendo que lidar com fortes restrições no Orçamento, o governo
também contará com as gigantes Petrobrás e Eletrobrás para ajudar no
impulso do crescimento econômico. O presidente da estatal do setor
elétrico, José da Costa Carvalho, por exemplo, anunciou que investirá R$
13,3 bilhões este ano, 48% a mais do que em 2011.
O economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves,
também vê nas estatais um bom espaço para o governo federal aquecer a
atividade econômica.
“A Eletrobrás está com os programas em dia, a Petrobrás está um pouco
atrasada, mas as duas têm projetos prontos e fornecedores preparados”,
avaliou. “É questão de começar.”
Concessões de aeroportos e rodovias federais, que não ocorreram no
primeiro ano do governo Dilma, agora deverão sair do papel e desencadear
investimentos no setor privado, segundo apostam economistas do governo.
Os aeroportos de Viracopos, Brasília e Guarulhos deverão ser leiloados
no dia 6 de fevereiro. Na próxima quarta-feira, será leiloada a
concessão de um trecho da rodovia BR 101.
Entre os técnicos, há forte aposta também no setor da construção
civil, animado pelo programa Minha Casa Minha Vida. Prejudicado em 2011
pela redefinição de critérios para as habitações, o programa deverá
ganhar volume ao longo deste ano e ajudar a acelerar o ritmo de
atividade econômica.
BNDES. Nos Estados e municípios, o governo espera uma reação mais
forte dos investimentos no primeiro semestre. No fim do ano passado, a
Fazenda autorizou um grupo de governadores a tomar novos empréstimos, no
total de R$ 37 bilhões. São Paulo, por exemplo, ganhou um reforço de R$
7 bilhões.
Se houver necessidade, não está descartado um novo reforço de caixa
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao longo
de 2012, além do empréstimo de R$ 10 bilhões que já foi anunciado para
ser liberado no início do ano. Assim, haverá mais recursos para as
empresas que queiram expandir sua capacidade produtiva.
O governo conta também com o efeito dos cortes de juros iniciados
pelo Banco Central (BC) em agosto do ano passado. Nesse caso,
paradoxalmente, o melhor cenário para o governo é uma recuperação mais
lenta da economia mundial. Isso evitaria o risco de alta dos preços das
commodities, que teria impacto sobre a inflação. Com a Europa crescendo
perto de zero, os Estados Unidos na casa de 2% e China e Índia
desacelerando, serão maiores as chances de a inflação brasileira fechar o
ano na casa de 5%.
O aumento de 14% no salário mínimo e a redução do Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) nos eletrodomésticos, medidas anunciadas
em 2011, também surtirão efeitos importantes principalmente no início
do ano, quando a economia estará mais desaquecida.
Frustração. A presidente Dilma está extremamente preocupada com o
risco de o crescimento de 2012 novamente frustrar o governo como ocorreu
no ano passado. O BC prevê uma alta de 3,5% do PIB este ano e a
avaliação no governo é de que há riscos concretos de um resultado mais
baixo, se não houver uma coordenação efetiva e “tempestiva” para
impulsionar a atividade e evitar que investimentos privados sejam
adiados por causa da possibilidade de um crescimento mais lento.
As perspectivas para o crescimento e a inflação num mundo em crise
foram o tema da reunião convocada na quarta-feira passada por Dilma, que
forçou ministro da Fazenda, Guido Mantega, a interromper um curto
período de férias. Também participou da conversa o presidente do Banco
Central, Alexandre Tombini.
Primeiro semestre. O governo trabalha com o cenário de um crescimento
mais suave no primeiro semestre do ano. A expectativa é de que a taxa
de juros possa cair para um patamar de 9,5% e, se possível, mais um
pouco, para 9%. No segundo semestre, quando se espera uma parada da
queda dos juros, a economia já estaria em ritmo mais acelerado,
garantindo também uma arrecadação mais forte.
Essa visão é compartilhada por economistas do setor privado.
Relatório divulgado pelo banco Itaú, por exemplo, diz que a economia
brasileira estará crescendo a um ritmo superior a 5% no segundo semestre
de 2012.
Mas, como a primeira metade do ano será ainda fraca, a taxa anual ficará em 3,5%.