Um dia após o pedido de licença por um mês do presidente da Transpetro,
Sérgio Machado, o governo já trabalha para encontrar um substituto. A
volta ao cargo do afilhado político do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), é dada como impossível. Ontem, reservadamente,
alguns peemedebistas informaram que não há outra saída a não ser a
demissão após o período de licença. O partido, inclusive, já trabalha
nos bastidores para indicar outro para comandar a subsidiária da
Petrobras. Parlamentares do PT foram mais cautelosos e avaliaram que era
preciso esperar a conclusão das investigações. Até lá, o diretor de Gás
Natural, Cláudio Ribeiro Teixeira Campos, responderá interinamente pela
subsidiária.
“A situação dele é bastante delicada. Muito
difícil permanecer na presidência. Na verdade, pelo que soube, o governo
pensou em demissão. No entanto, agiu com mais cautela. Há o temor de
que ele possa fazer um estrago se resolver falar agora”, explicou um
senador do PMDB. O afastamento de Machado foi condição imposta pela
consultoria PriceWaterhouseCoopers (PwC) para continuar a auditoria na
estatal.
Nomeado em junho de 2003, durante a gestão de Luiz
Inácio Lula da Silva, o ex-senador e ex-deputado filiado ao PMDB do
Ceará foi citado nos inquéritos que investigam o esquema de corrupção
desvendado pela Operação Lava a Jato, da Polícia Federal. Em depoimento
ao Ministério Público Federal, o ex-diretor de Abastecimento e Refino da
Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou ter recebido R$ 500 mil das mãos
de Machado entre 2009 e 2010 para a contratação de “alguns navios”,
negócio que passou pela Diretoria de Abastecimento. “Foi entregue
diretamente por ele”, confirmou Paulo Roberto.
A presença de
Sérgio Machado à frente da Transpetro era vista pela PwC como empecilho
para a realização da auditoria na estatal. Em carta, o gestor afirmou
que não tem nenhuma ligação com as irregularidades denunciadas. “Nada
devo nem temo em relação à minha trajetória na Transpetro”, disse.
Vargas
Uma
nova manobra para favorecer o deputado André Vargas (sem partido-PR)
ameaça protelar o processo que pede a cassação dos direitos políticos do
ex-petista, investigado por manter relações com o doleiro Alberto
Youssef, preso na Lava a Jato. Apresentado ontem pelo deputado José
Mentor (PT-SP), o novo parecer contraria o relatório do deputado Sérgio
Zveiter (PSD-RJ) e demanda que o processo retorne ao Conselho de Ética
para “concluir” a tramitação.
A movimentação, que pode
beneficiar Vargas, ocorre um dia depois de ele ter feito lobby na
reunião da Executiva Nacional do PT, em Brasília. Por falta de quórum, o
relatório nem sequer chegou a ser lido na sessão da Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) de ontem. Alguns parlamentares
petistas estiveram na sala da reunião, mas não marcaram presença no
painel, que contou com 22 deputados registrados. Eram necessários pelo
menos 34 para deliberar os dois pareceres.
Responsável pelo
pedido de vista da semana passada, José Mentor colocou em xeque a
tramitação do julgamento pelo Conselho de Ética. A comissão não julga o
mérito do processo (se deve ou não ser cassado), mas analisa a
tramitação dele. Se o parecer de Zveiter for derrubado, a comissão
precisa votar o relatório de Mentor.