As autoridades financeiras do G-7 tentaram minimizar a ameaça ao sistema financeiro criada pelo endividamento da Grécia, em meio a temores crescentes de contágio dos outros 16 membros da zona do euro. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, que participou da reunião do G-7 numa remota cidade canadense, disse que as autoridades financeiras da Europa deixaram claro que vão administrar com muita cautela a situação da Grécia. Outras autoridades enfatizaram que, por causa do tamanho relativamente pequeno da Grécia, o país não representa um risco sério para o sistema financeiro mundial. Comentários como esses podem fazer pouco efeito na hora de acalmar mercados que já deixaram a Grécia para trás e se concentram agora em outros países da zona do euro. “Ninguém está realmente preocupado com a Grécia – mas as pessoas temem a possibilidade de contágio”, diz Axel Merk, presidente e diretor de investimentos da Merk Mutual Funds.
O G-7, que representa as maiores economias da Europa e da América do Norte e o Japão, afirmou que a economia mundial melhorou, mas a recuperação do sistema financeiro continua provisória. As autoridades disseram que continuarão a apoiar suas economias até que a recuperação do sistema financeiro crie bases sólidas.
Os comentários foram feitos depois que temores de que alguns países europeus possam pedir moratória provocaram uma queda das bolsas. Ações e títulos de dívida europeus foram os mais afetados, à medida que o custo do seguro contra moratória dos países mais vulneráveis batia recorde. Esses temores também pesaram sobre o euro, que caiu para a menor cotação dos últimos oito meses, quando alguns investidores venderam suas aplicações europeias.
O grande temor da maioria dos políticos europeus é que os receios em relação ao mercado não se restrinjam aos países com alto déficit governamental – Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal – e afetem membros da zona do euro com finanças mais estáveis, como Bélgica e Áustria, cujos títulos soberanos caíram na semana passada.
“As oscilações na Grécia reduziram a liquidez do mercado”, diz Mohamed El-Arian, diretor-presidente da Pacific Investment Management Co. (Pimco), uma grande administradora de recursos com sede na Califórnia. “O resultado é que os países vizinhos se tornaram hedges parciais de exposições para as quais não dá para fazer hedge direto e total.” Países como Bélgica, Áustria e França devem resistir bem a uma crise no mercado de títulos porque, apesar do alto nível de endividamento, não dependem de estrangeiros para financiar seus déficits, nota Sebastien Galy, estrategista de câmbio do BNP Paribas em Nova York. A Bélgica, por exemplo, exporta capital para outros países. Mas, como integrantes da zona do euro, esses países ainda podem ser obrigados a gastar muito socorrendo outros membros. “O contágio ocorre por causa do socorro”, diz Galy. “Se houver um socorro, os ativos podres vão parar no balanço dos ativos saudáveis.”
Um fator que diferencia a crise financeira atual das outras é o swap de crédito, um contrato parecido com um seguro que permite a investidores e especuladores apostar na possibilidade de moratória. Mas, diferentemente dos seguros convencionais, é possível obter uma garantia para algo que você não tem. Isso torna essa aplicação um veículo conveniente para traders, o que faz dela mais um mecanismo no ciclo de contágio.
Um número crescente de investidores, como fundos de hedge mundiais, começaram a comprar swaps de crédito nos últimos meses da dívida de vários países, como Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Letônia. Os operadores dizem que têm visto nas últimas semanas um aumento nas vendas de seguros como esses.
Até a semana passada, havia cerca de US$ 77 bilhões em contratos de swap de crédito protegendo a dívida da Grécia, segundo a Depository Trust & Clearing Corporation, quase o dobro dos US$ 40 bilhões de um ano atrás. A Grécia deve cerca de US$ 408 bilhões, segundo o seu Ministério da Fazenda.
Os títulos dos vários países envolvidos têm caído de preço e, com isso, o valor desses contratos de swap, que servem de seguro para vários tipos de dívidas, foi às alturas, permitindo que os investidores obtivessem bons lucros. Investidores que duvidam que os países problemáticos da zona do euro vão colocar as finanças em ordem dizem que vão manter as apostas e buscar outros países para apostar contra, como Bélgica e França.
Alguns investidores mais pessimistas argumentam que França, Bélgica e outros países europeus mais ricos provavelmente terão de se unir para realizar algum tipo de socorro dos membros mais fracos, o que pressionaria a sua própria saúde financeira. O custo do seguro para dívidas desses dois países com vencimento em cinco anos já subiu quase 20% nos últimos cinco dias.