O futuro do jornal Gazeta Mercantil, fundado em 1920, segue indefinido. Na sexta-feira, circulou a última edição sob a responsabilidade da Companhia Brasileira de Multimídia (CBM). Até ontem ainda era esperado um acordo para a continuidade da publicação entre o empresário Nelson Tanure, da CBM, e o dono do título, Luiz Fernando Levy. Esse acordo, no entanto, não ocorreu, e o jornal não circula hoje. Levy informou, na sexta-feira, que iria se pronunciar hoje sobre o destino do periódico.
A CBM concedeu um mês férias para todos os cerca de 90 trabalhadores a partir de hoje. O grupo afirmou que vai tentar recolocar os profissionais em outras publicações da própria CBM (que é dona da Editora JB e da Editora Peixes) durante esse período. Caso não haja recontratação, deve conceder mais trinta dias de férias. Se até lá não houver recolocação, os trabalhadores serão demitidos.
Durante o fim de semana, os acessos ao site do jornal foram redirecionados para um comunicado em que a CBM reafirma o fim da responsabilidade sobre as marcas Gazeta Mercantil e InvestNews. O informe está hospedado no endereço eletrônico do novo empreendimento da CBM, o portal Investimento e Notícias, que entrou em funcionamento na semana passada. A expectativa por parte dos funcionários é que esse novo site empregue parte da mão de obra do jornal.
A associação entre Levy e Tanure, dono do grupo Docas Investimentos, ao qual pertence a CBM, ocorreu em 2003, por meio de um contrato de arrendamento do título Gazeta Mercantil. É esse contrato que Tanure pretende rescindir. O principal motivo para o fim do acordo é a herança de uma dívida trabalhista estimada em R$ 200 milhões. A Justiça considerou o arrendamento da marca como um forma de sucessão, o que atrelou o passivo trabalhista à CBM.
Isso possibilitou a cobrança de credores da Gazeta, que têm conseguido bloquear pagamentos direcionados ao jornal. No início do ano, a CBM deixou de pagar as parcelas de R$ 400 mil à Justiça, destinadas a acordos trabalhistas, com a justificativa de que os bloqueios de créditos a receber a deixaram sem recursos. A empresa chegou a pagar mais de R$ 4 milhões em acordos trabalhistas em 2008, de acordo com o Tribunal Regional de Trabalho de São Paulo.
Um dos bloqueios mais recentes foi o pedido da Justiça Trabalhista de São Paulo de penhora de ações e cotas societárias da empresa Intelig Telecomunicações, que foram compradas pela operadora de telefonia TIM por um valor estimado em R$ 650 milhões. A Justiça quer as ações como parte do pagamento da dívida trabalhista contabilizada nos processos contra a Gazeta Mercantil.
A juíza Maria Aparecida Vieira Lavorini, da 26.ª Vara do Trabalho, que determinou o bloqueio, junta o máximo de informações sobre Tanure e suas empresas, enquanto aguarda a penhora dos R$ 200 milhões em ações da Intelig. A penhora depende da entrega de uma carta precatória à Intelig, no Rio, que deve ocorrer hoje. A partir do recebimento do comunicado, Tanure terá cinco dias corridos para tentar o embargo da decisão. A juíza questiona os motivos que levaram a TIM a adquirir as ações, sabendo da situação e do endividamento trabalhista do grupo de Tanure.