A Argentina recebeu nesta terça-feira uma importante manifestação de apoio por parte de credores que aceitaram as reestruturações da dívida em 2005 e 2010, segundo o jornal britânico “Financial Times”. Em carta enviada a Pollack, informou o jornal, citando fontes, esses credores se declaram dispostos a abrir mão de uma cláusula que lhes garantiria o mesmo valor pago aos “abutres” pelos papéis.
A cláusula Rights Upon Future Offers (Rufo), que expira no fim deste ano, prevê que qualquer oferta aos credores não reestruturados pode de ser estendida aos demais. Ela é usada como argumento pelo governo Cristina Kirchner para não negociar com os “abutres”, porque poderia dar origem a novas demandas judiciais, entre US$ 120 bilhões e US$ 500 bilhões.
Os credores que contataram Pollack, segundo o “FT”, detêm cerca de US$ 4 bilhões dos US$ 11 bilhões em bônus Discount e Par. Outros credores procurados pelo jornal britânico não comentaram se também abririam mão da cláusula Rufo.
Nesta terça-feira, reúnem-se com Pollack a procuradora do Tesouro argentino, Angelina Abbona, e os secretários Palo López (Finanças) e Federico Thea (Legal e Administrativo). Como ocorreu na semana passada, o ministro da Economia, Axel Kiciloff, mais uma vez não estará presente. Ele viajou ontem com Cristina Kirchner para Caracas, onde terá lugar a cúpula de presidentes do Mercosul.
Pollack disse em nota que pediu que eles “tivessem uma conversa direta com os fundos litigantes, mas isso não vai acontecer amanhã”. E acrescentou que avisou à equipe argentina que estará disponível “a qualquer hora, ao vivo ou por telefone”.
A Argentina tem até amanhã para pagar uma parcela de US$ 1 bilhão aos credores reestruturados. O governo havia depositado o dinheiro em bancos no fim de junho, mas o juiz federal de Nova York Thomas Griesa determinou o bloqueio dos recursos. Uma decisão sua de 2012, ratificada no início de junho pela Suprema Corte americana, estabelece que a Argentina não pode pagar os credores reestruturados sem pagar, ao mesmo tempo, US$ 1,5 bilhão aos “abutres”.
Enquanto conta as horas para um calote, o governo argentino conseguiu fazer ontem outros dois pagamentos. O Ministério da Economia informou ter pagado US$ 642 milhões aos 19 países que compõem o Clube de Paris, como parte do acordo fechado em maio último. A dívida total, incluindo multa e juros, chega a US$ 9,39 bilhões.
E o próprio Griesa autorizou o Citigroup a repassar aos credores os juros de títulos emitidos pela lei argentina — os que vencem amanhã estão sujeitos à legislação de Nova York. O argumento foi que o banco não podia distinguir entre os recursos destinados a esse vencimento e aqueles destinado à espanhola Repsol, pela estatização da YPF. “A corte não quer afetar o acordo com a Repsol”, afirmou Griesa em nota, segundo o “La Nación”.
Apesar de o governo ter assumido o discurso de que o país não será afetado se não houver acordo com os “abutres”, o mercado e muitos argentinos estão profundamente preocupados. Ontem, a Bolsa de Valores de Buenos Aires fechou em queda de 1%, o dólar paralelo voltou a bater 13 pesos e foi confirmada a maior fuga de depósitos para bancos uruguaios dos últimos seis anos.
DEPÓSITOS TRANSFERIDOS AO URUGUAI
De acordo com dados divulgados esta semana por bancos públicos e privados do Uruguai, em junho os depósitos de não residentes no país — dos quais estimam-se que 75% sejam argentinos — aumentaram em US$ 152 milhões. Este crescimento é cinco vezes maior do que a média mensal dos últimos 18 meses. Repetindo um cenário visto na crise de 2001, centenas de correntistas argentinos optaram por transferir suas economias para o Uruguai. A tendência teria aumentando nas primeiras semanas de julho, crescendo ainda mais nos últimos dias.
No primeiro semestre, os depósitos de não residentes no Uruguai cresceram 11%, para US$ 4,4 bilhões. É o maior montante desde 2002.
— O principal motivo desta fuga é o clima de incerteza que predomina na Argentina. O Uruguai é considerado um país mais previsível — comentou uma fonte do mercado.
A Casa Rosada, porém, não parece estar preocupada com a perda de depósitos, nem com as consequências de um provável calote.
— De forma alguma a Argentina vai entrar em default, não vai acontecer nada — afirmou nesta segunda-feira o secretário geral da Presidência, Oscar Parrilli.