Se as notícias não são boas para os países emergentes, como divulgou ontem o relatório Perspectiva Econômica Global do Fundo Monetário Internacional (FMI), são ainda mais amargas para o Brasil, que tem a projeção do menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 dentre as economias em desenvolvimento. Os economistas do FMI continuam apostando em 2,5% de expansão da atividade econômica para 2013, mas a nova estimativa para o ano que vem mostra que o Brasil é o país que mais perderá fôlego entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Para a presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição em 2014, os meros 2,5% de crescimento da economia projetados pelo FMI para o ano que vem podem incomodar, já que o desempenho da economia influencia de forma determinante a decisão do eleitorado. Se confirmada, a redução na projeção do FMI, de 3,2% em julho para 2,5%, deixará o Brasil com um desempenho menor do que a metade da média de crescimento dos emergentes, projetada em 5,1% para 2014.
“O tombo do Brasil é ainda maior se avaliarmos as projeções do FMI feitas em abril. Naquela ocasião, a expectativa do fundo era de um crescimento de 4% em 2014. Ou seja, um recuo de 1,5 ponto percentual para os 2,5% de agora. A maior desaceleração econômica dentre países emergentes. China perdeu um ponto; Índia 1,2; e Rússia 0,8 ponto percentual”, alertou Alex Agostini, analista da Austin Rating.
No relatório, o fundo não detalha os motivos que levaram à revisão, mas diz que o Brasil e outros emergentes como China, Índia e África do Sul mostram uma perda de fôlego em parte devido a fatores cíclicos e estruturais. No caso de Brasil e Índia, especificamente, por conta dos gargalos regulatórios e de infraestrutura, e da desaceleração da oferta num cenário de demanda doméstica ainda forte. “Como resultado, pressões externas aumentaram nessas economias.”
INFLAÇÃO Mesmo com a redução nas previsões de crescimento, o FMI sugere que o Banco Central (BC) deve continuar a elevar a taxa de juros para conter a inflação. “Brasil, Índia e Indonésia devem manter o aperto monetário para enfrentar a continuidade de pressões inflacionárias causadas por restrições de capacidade, as quais tendem a ser reforçadas pela recente desvalorização do câmbio”, afirmou o relatório do fundo. Hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulga a nova taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). A expectativa do mercado é a Selic deve ajustada em mais 0,5 ponto percentual, chegando a 9,5% ao ano.
“Uma avaliação que pode ser feita sobre isso é que o FMI já está considerando o início do desmonte do programa de estímulos dos Estados Unidos (que injeta US$ 85 bilhões na economia todos os meses), programado para o ano que vem. Países que, como o Brasil, têm déficit de contas correntes elevados e inflação alta, terão mais pressão por conta do câmbio, mais dificuldades de responder a choques econômicos e menor capacidade de resiliência”, explicou Agostini.
No caso do Brasil, o déficit em conta corrente vem crescendo, atingindo 3,6% do PIB nos 12 meses até agosto. O FMI projeta um rombo de 3,4% do PIB em 2013 e de 3,2% em 2014. “A capacidade de crescer do Brasil é restrita por falta de produtividade. Por isso, o relatório do FMI também mostra a necessidade de reformas estruturais e mais investimentos em infraestrutura”, avaliou José Márcio Camarg, economista-chefe da Opus Investimentos.