A decisão de interromper a trajetória de queda da taxa básica de juros foi motivada, basicamente, pela avaliação de que os sucessivos cortes feitos desde janeiro não só já surtiram como ainda continuarão a surtir efeitos benéficos sobre o nível da atividade econômica. Essa é, resumidamente, a explicação contida na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, durante a qual os membros do colegiado decidiram manter em 8,75% ao ano a meta de Taxa Selic.
O documento foi divulgado ontem pelo BC, oito dias após a reunião. O ano de 2009 abriu com a Selic no patamar de 13,75% ao ano. Diante da desaceleração econômica que havia sido causada pela crise financeira, daí até julho, o Copom viu espaço e promoveu cinco cortes seguidos na taxa, no total de cinco pontos percentuais. Proporcionalmente expressiva para tão curto período, pelo menos no momento, essa redução já ocorrida é considera suficiente para que atividade econômica siga se recuperando em ritmo que não represente risco de pressões inflacionárias mais à frente.
“As decisões sobre a evolução da taxa básica de juros têm que levar em conta a magnitude do movimento total realizado de janeiro a julho”, diz a ata. Em seguida, acrescenta que os impactos desses cortes passados sobre diversos indicadores econômicos “ficarão evidentes ao longo do tempo”, com a retomada paulatina da utilização dos fatores de produção.
Para o Copom, tanto indicadores de consumo quanto, mais recentemente, dados da indústria já mostram melhora na evolução da atividade econômica. Os cortes já realizados continuarão a se refletir em recuperação da economia porque “há defasagens (temporais) importantes entre a implementação da política monetária e seus efeitos tanto sobre o nível de atividade quanto sobre o nível de inflação”, lembra a ata.
Em vez de privilegiar o comportamento atual dos índices, portanto, o Copom entende que sua avaliação “deve concentrar-se, necessariamente, no cenário prospectivo para a inflação”, ou seja, olhar para a tendência dos índices num período mais longo. A ata não traz nenhuma informação preocupante sobre esse cenário de prazo mais longo, em relação ao qual as expectativas colhidas junto ao mercado indicam inflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro das metas (4,5% ao ano para 2010 e 2011). Ao contrário, em mais de um trecho, de diferentes formas, o documento afirma que, mesmo tendo aumentado, o nível de utilização da capacidade instalada das empresas ainda indica ociosidade suficiente para que consumo e produção aumentem paulatinamente sem gerar pressão sobre preços.
Ainda assim, diante da incerteza sobre o efeito retardado da flexibilização de juros já ocorrida, o Copom defende que “a política monetária deve manter postura cautelosa”, com vistas a assegurar que a inflação de fato se mantenha dentro da meta mais à frente. Tal cautela, diz a ata, “contribuirá para para mitigar o risco de reversões abruptas” dessa política no futuro. Em outras palavras, o BC prefere parar e esperar para ver o que vai acontecer com a economia, após tantos cortes de juros, a se precipitar e correr o risco de se ver obrigado a retomar elevações da Selic.
A ata lembra que, além de estímulos monetários, foram introduzidos na economia, nos últimos meses, também estímulos fiscais que deverão contribuir com a retomada da atividade. Os efeitos de ambos as modalidades de estímulo, diz ainda a ata, “devem ser cuidadosamente monitorados ao longo do tempo e são parte importante do contexto” a ser considerado nas futuras decisões do Copom.