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18 de abril de 2024Jornal de economia pode deixar de circular na próxima semana, após devolução da marca para antigos controladores Dono da marca pede que funcionários não se iludam porque jornal “acabou”; passivo trabalhista supera R$ 200 mi e salários atrasam.
O jornal “Gazeta Mercantil”, fundado em 1920, poderá deixar de circular a partir da próxima semana. A CBM (Companhia Brasileira de Multimídia), dona da editora JB e licenciadora da marca “Gazeta Mercantil”, informou ontem, em comunicado publicado na primeira página da “Gazeta”, que deixará de publicar o jornal a partir de 1º de junho.
A CBM diz estar exercendo o direito de rescindir o contrato de licenciamento de marca feito em 2003, devolvendo-a seus donos. O antigo controlador, Luiz Fernando Levy, não pretende reassumir o jornal. Hoje, há 51 jornalistas na “Gazeta”.
Segundo a Folha apurou, Levy disse ontem numa ligação viva-voz aos jornalistas da “Gazeta”, que o procuraram para saber o que seria feito da publicação, que “não se iludissem, pois [o jornal] acabou”.
A direção da Gazeta e a da CBM passaram a tarde reunidas. À noite, ocorreu uma reunião do Sindicato dos Jornalistas com a Redação, que pretendia finalizar ao menos parte do jornal para que ele não deixasse de circular.
Numa reportagem publicada na parte interna da “Gazeta”, foi informado que, caso Levy não “queira assumir suas responsabilidades”, o usufruto da marca poderia ser concedido a uma entidade sem fins lucrativos organizada pelos funcionários para edição e comercialização do jornal. Não há, entretanto, segundo a Folha apurou, nenhum tipo de organização ou interesse da Redação e dos funcionários nesse sentido.
Conhecida por arrendar apenas os títulos e deixar a propriedade e os passivos dos veículos para os donos originais, a CBM também é dona do “Jornal do Brasil” e da editora Peixes, que publica revistas como “Gula” e “Viver Bem”.
Mesmo com a operação, a Justiça Trabalhista vem, há anos, reconhecendo a sucessão das dívidas da “Gazeta” para a CBM, que pertence ao empresário Nelson Tanure. A “Gazeta” passou a ter dificuldades no fim da década, e o título foi vendido à CBM.
Vêm dessa época as dívidas trabalhistas cobradas agora, que superam R$ 200 milhões. Como toda a receita do jornal com publicidade começou a ser bloqueada para pagamento do passivo, a empresa passou a enfrentar grandes dificuldades. Hoje haverá uma reunião entre o Sindicato dos Jornalistas, a CBM e a “Gazeta”.
O comunicado publicado ontem atribui a decisão de rompimento de contrato ao fato de os antigos proprietários da “Gazeta” não pagarem as dívidas trabalhistas acumuladas após sucessivas derrotas judiciais. Segundo Djair de Souza Rosa, diretor jurídico da CBM, a empresa realizou nos últimos cinco anos adiantamentos à Gazeta Mercantil S.A. superiores a R$ 90 milhões.
“O desinteresse em continuar o contrato de licenciamento e uso da marca “Gazeta Mercantil” é a imputação de dívidas que absolutamente não são da Editora JB, e sim da Gazeta Mercantil S.A., de propriedade do sr. Luiz Fernando Levy”, disse Rosa. Ele afirmou que a rescisão do contrato não implica multa à Editora JB.
Em um comunicado interno da CBM ao qual a Folha teve acesso, a companhia faz críticas diretas a Levy: “Não é sem constrangimento que se vem constatando que os dirigentes da Sociedade Anônima da GZM agem de forma contrária aos dispositivos do contrato de licenciamento. Sobretudo na tentativa de atribuir à nossa empresa, de forma infundada, inconsequente e irresponsável, condição de sucessora das obrigações trabalhistas da GZM S.A. e da Gazeta Mercantil Participações Ltda., com a finalidade de salvaguardar interesses pessoais do controlador”.
Já Levy, no telefonema à Redação da “Gazeta”, qualificou Tanure de “vigarista” e afirmou que o rompimento foi uma tentativa de escapar de sua responsabilidade com as dívidas do jornal.
A “Gazeta” tinha circulação diária de aproximadamente 96 mil exemplares quando Tanure passou a controlá-la, em dezembro de 2003. Na última auditoria do IVC (Instituto Verificador de Circulação), em julho de 2008, este número estava em 70.193. O jornal não é mais filiado ao IVC.
Tanure também é dono de negócios como estaleiros e empreendimentos imobiliários, reunidos na holding Docas S.A. No ano passado, comprou a Intelig -em abril, a TIM anunciou a incorporação da operadora. Segundo balanço, a Docas apresentou prejuízo de R$ 7,4 milhões no primeiro trimestre de 2009 e acumulava patrimônio líquido negativo de R$ 41,7 milhões, ante um saldo negativo de R$ 34 milhões no fim do ano passado. Ou seja, somados todos os bens, a empresa não conseguiria pagar suas dívidas.
Procurado pela reportagem, Levy não concedeu entrevista.