Em 15 meses, endividamento de instituições financeiras lá fora saiu de US$ 63 bi para US$ 122 bi; dinheiro estimula expansão do crédito
A dívida externa dos bancos brasileiros dobrou nos últimos 15 meses – de US$ 63,6 bilhões em dezembro de 2009 para US$ 122 bilhões em março deste ano. É um ritmo bem superior ao endividamento externo total do País, que inclui empresas e o governo. Este saiu de US$ 277,6 bilhões para US$ 381,3 bilhões no mesmo período, uma alta de 37%.
O dinheiro captado pelos bancos no exterior preocupa o governo por causa do impacto que provoca na expansão do crédito no País. A lógica é simples: a instituição toma dólares emprestados lá fora, os converte em reais e aplica no Brasil, em crédito e/ou em títulos públicos.
Ao transformar o dinheiro lá de fora em empréstimo aqui dentro, os bancos estimulam o consumo, o que desagrada ao governo no momento em que são adotadas medidas para conter a escalada da inflação por meio da desaceleração da economia.
Do ponto de vista do endividamento dos bancos em si, a preocupação é menor porque as instituições financeiras são obrigadas a se proteger das eventuais variações cambiais recorrendo a uma operação do mercado chamada de hedge cambial. Com isso, os riscos de que uma brusca oscilação do real ante o dólar provoque uma crise são reduzidos.
O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, observa que, nos últimos 12 meses, o crédito total na economia brasileira se expandiu 20,7%, um ritmo superior ao que os próprios bancos esperavam. “No fim do ano passado, o guidance (guia) dos bancos apontava uma expansão entre 13% e 16%”, afirmou.
Para ele, apesar do desejo do governo, as instituições financeiras não têm encontrado razões para desacelerar o crédito. Ao contrário. “As ações do próprio governo indicam um pouso suave da economia brasileira. Nesse cenário, os bancos continuam a emprestar, porque não há perspectiva de uma forte alta da inadimplência”, argumentou.
O especialista também lembrou que os empréstimos no exterior não são atingidos pelo aumento dos depósitos compulsórios promovido pelo Banco Central (BC) no fim do ano passado e início deste ano.
Depósitos compulsórios são recursos que os bancos devem deixar parados (sem remuneração ou com remuneração atrelada à taxa básica de juros) no BC. Em outras palavras, não podem ser emprestados para o mercado – empresas ou pessoas físicas.
Outro analista, que pede para não ser identificado, diz que um dos principais alvos dos bancos ao trazer dinheiro do exterior é o setor imobiliário. “No Brasil, praticamente não há dinheiro de longo prazo. No exterior, sim. Então, os bancos captam lá fora e ajustam melhor seus ativos e passivos”, explicou.
Segundo dados do próprio BC, os empréstimos imobiliários são os que vêm registrando a maior taxa de crescimento nos últimos meses – e a tendência, segundo banqueiros, é de que o ritmo seja mantido nos próximos anos.
Nos 12 meses encerrados em março, o crédito imobiliário às pessoas físicas avançou 49,6%. Nas pessoas jurídicas, 48,3%. “O governo quer acabar com a festa (no crédito), mas não consegue”, disse Santacreu. “E precisa mesmo ser cuidadoso ao fazê-lo, pois não interessa a ninguém um freio tão forte que acabe elevando a inadimplência.”