Um dia após o Federal Reserve (Fed, banco central americano) ter decidido continuar a retirada dos estímulos monetários nos EUA, as moedas de países emergentes estão novamente sob pressão nesta quinta-feira. Na abertura do mercado de câmbio brasileiro, o dólar comercial chegou a ser negociado a R$ 2,445, uma valorização de 0,33%. Por volta das 9h20m, porém, a moeda apresentava uma leve desvalorização de 0,08%, cotada a R$ 2,432 na compra e R$ 2,434 na venda.
O Fed anunciou ontem a redução em US$ 10 bilhões seu programa de recompra de ativos, pelo segundo mês consecutivo, para US$ 65 bilhões mensais. A decisão foi tomada mesmo com a turbulência em mercados emergentes, o que tem levado os bancos centrais (BCs) a adotarem, quase que simultaneamente, medidas de aperto monetário. Foi assim na Turquia, Índia e África do Sul, que elevaram as taxas básica de juros.
Além da retirada de estímulos pelo Fed, os investidores seguem preocupados com os sinais de desaceleração da China. A pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), elaborado pelo Markit/HSBC, indicou queda das condições da indústria da China de 50,5 em dezembro para 49,5 em janeiro, a primeira deterioração em seis meses. Leitura abaixo de 50 indica contração. A pesquisa mostrou enfraquecimento no crescimento da produção e de novos negócios.
As moedas pelo mundo seguem assim pressionadas nesta quinta-feira. Entre os emergentes, além da desvalorização do real, estão em queda frente ao dólar o florim húngaro (-1,20%), a lira turca (-1,06%) e o rublo russo (-0,60%), por exemplo. Mais cedo, recuaram a rúpia indonésia (-0,38%) e indiana (-0,53%). O rand sul-africano, por sua vez, apresenta uma recuperação de 0,35%. Também perdem terreno o euro (-0,42%), o franco suíço (-0,49%) e a libra esterlina (-0,63%).
– O mercado global reage ao anúncio do Fed e aos dados ruins da China. Nós aqui estamos na contramão. O anúncio do Banco Central de que vai rolar US$ 2 bilhões em contratos na próxima sexta-feira pode estar influenciando isso. Mas a tendência segue a mesma, de dólar para cima, e uma fuga de dólares parece inevitável. Estamos prevendo o câmbio a R$ 2,50 no fim do ano – disse Newton Rosa, economista-chefe da SulAméricas Investimentos.
O BC brasileiro anunciou ontem que vai fazer dois leilões de linha – venda de dólar com compromisso de recompra futura – de até US$ 2,3 bilhões na próxima sexta-feira, parte de seu programa de “ração diária” aos agentes. O valor é o dobro do que era oferecido no ano passado. O objetivo dos leilão é rolar contratos que vencem em 4 d e fevereiro. Nesta quinta-feira, o BC vai realizar um leilão de swap cambial tradicional – operação equivalente a uma venda de moeda no mercado futuro – de 4 mil contratos, das 9h30m às 9h40m. O resultado será divulgado por volta das 9h50m.
Segundo o economista Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora, o desmonte das incentivos monetários nos Estados Unidos encontra o Brasil com “inúmeros indicadores adversos da economia”, o que coloca o país no grupo dos chamados “Cinco Frágeis”, termo cunhado pelo banco de investimentos Morgan Stanley e que inclui ainda Turquia, Índia, Indonésia e Africa do Sul. São países com elevada dependência de financiamento externo e que estão mais vulneráveis.
“Turquia, África do Sul e Índia procederam a elevações de suas taxas de juro, porém estas decisões não promoveram o suporte à desvalorização de suas moedas, até porque os impactos mais relevantes vem da piora das perspectivas e não já do dia a dia que dará evidência ao movimento de saída de recursos estrangeiros destes países”, avaliou Nehme, em relatório aos clientes.