Depois de enfrentar três semanas de desgaste e ouvir críticas de
imobilismo e falta de habilidade política, a presidente Dilma Rousseff
aproveitou a despedida de Antonio Palocci da Casa Civil nesta
quarta-feira, 8, – até então o homem forte do governo, da cota do
ex-presidente Lula – para tentar demonstrar reação e retomada do
controle do governo. Enfatizou, ainda, que coube a ela própria encontrar
a saída para a crise. “Jamais vamos ficar imobilizados diante de
embates políticos, pois sabemos travar o embate e, ao mesmo tempo,
governar”, disse a presidente.
Em solenidade no Planalto, ela fez questão de dizer que escolheu sozinha
a senadora Gleisi Hoffmann para substituir Palocci na Casa Civil:
“Assim como estou triste pela saída de um parceiro de luta, não posso
deixar de afirmar que estou satisfeita pela solução que encontrei para
assegurar a imediata continuidade do trabalho do gabinete civil da
Presidência da República”.
Ao contrário de quase todos os pronunciamentos anteriores no
Planalto, a presidente não citou Lula. No momento em que a demissão de
Palocci é vista como verdadeiro início da gestão Dilma por setores
políticos, a falta de referência ao antecessor foi observada por
assessores de governo. Em alguns dos 58 discursos feitos no Palácio e
durante viagens, ela chegou a citar o ex-presidente três vezes.
Sucessora de Palocci, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) enfatizou a
importância da articulação política no governo, apesar de ter sido
designada para controlar o aspecto gerencial do governo. “A política dá
sentido à técnica, e esta qualifica a política”, disse no discurso de
posse.
Hora certa. Em São Paulo, ao participar de um evento
na capital, o ex-presidente Lula lamentou a saída de Palocci e colocou
nas mãos de Dilma a responsabilidade integral pelas mudanças no governo.
“É sempre triste ter que tirar um companheiro. Eu tive que tirar
companheiros e é uma tristeza muito grande. Mas acho que a presidenta
tem autoridade. Ela fez no momento certo”, disse Lula. Sobre a escolha
de Gleisi Hoffmann, Lula economizou palavras, mas referendou o nome: “Se
a companheira Dilma escolheu, tá certo”.
Durante a crise, Lula deixou Dilma numa berlinda política depois que
se deslocou para Brasília na tentativa de salvar Antonio Palocci, cuja
evolução patrimonial sobretudo no final de 2010 levantou suspeitas de
tráfico de influência e enriquecimento ilícito. A intervenção de Lula na
crise provocou críticas a Dilma pelos opositores e, nos bastidores,
pelos aliados por suposta dependência do antecessor.
No discurso de despedida de Palocci, Dilma afirmou que também tinha
relação política e pessoal com o petista e lamentou a saída do “querido
amigo”.
“Agradeço do fundo do meu coração o que Antonio Palocci por tudo o
que ele fez por mim, pelo governo e pelo Brasil.” Ela avaliou que o
ministro demitido foi um dos “artífices da jornada vitoriosa” da
campanha de 2010. “Tenho muitos motivos para lamentar a saída do
ministro Antonio Palocci, motivos de ordem política, administrativa e
pessoal.”
Na solenidade de “recomeço” de governo, Dilma ensaiou uma crítica à
atuação dos opositores e voltou a mandar o recado que reagirá a ataques.
“É do jogo democrático enfrentarmos a oposição, quase sempre ruidosa,
nem sempre justa”, afirmou. “A pressão e as criticas não vão inibir a
ação do meu governo.” Durante a crise que culminou com a queda de
Palocci, a presidente disseque não seria “refém” de aliados nem de
opositores.