Ao discursar ontem, na abertura da 41 ª Reunião de Cúpula do Mercosul, em Assunção, no Paraguai, a presidenta Dilma Rousseff fez um alerta sobre a situação econômica mundial e citou a difícil situação de países como os Estados Unidos, a Grécia, Portugal, a Irlanda e a Espanha. No discurso, ela reforçou a importância da área de livre-comércio e destacou o aumento das trocas comerciais entre os países do bloco nos últimos 20 anos. “O Mercosul tem sido a plataforma fundamental e, em 20 anos, criamos e consolidamos a união aduaneira. Ainda que imperfeito, o comércio interregional cresceu. De US$ 5 bilhões em 1991 para US$ 44,5 bilhões em 2010, cifra superior aos níveis pré-crise alcançados em 2008”, exemplificou.
Segundo ela, experiências bem-sucedidas de transferência de renda, de criação de empregos e de elevação social estão sendo difundidas na região. “A prevalência da lógica do diálogo e da compreensão, em oposição à lógica da confrontação, em zona livre de armas nucleares e de conflitos étnicos distingue hoje o Mercosul e a nossa Unasul de outras áreas no mundo”, destacou Dilma.
De acordo com a presidente, há motivos para comemorar, mas ainda há muito o que fazer. “Recentemente, lançamos o programa Brasil sem Miséria, pelo qual pretendemos resgatar 16 milhões de brasileiros que ainda vivem em condições de pobreza extrema. Nele, a pobreza não será apenas um número. Nós hoje conseguimos detectar nome, endereço e sobrenome de cada um dos mais pobres do país”, disse Dilma.
Segundo Dilma, é preciso assegurar que os mercados dos países em desenvolvimento sirvam de estímulo a seu crescimento, desenvolvendo e gerando emprego e renda para seus povos. “Precisamos avançar na agregação de valor para nossos produtos”, destacou. Para ela, os países do Mercosul fizeram bem em optar por um modelo de desenvolvimento como o adotado pelo Brasil, que classificou de “único no mundo”.
Neste modelo, disse a presidente, o crescimento não é apenas a expansão numérica do Produto Interno Bruto (PIB). “É muito mais. É um processo de geração compartilhada de riqueza, preservando nossa cidadania, vinculada a uma visão de desenvolvimento que se quer socialmente justo e ambientalmente sustentável.” Ao falar do modelo brasileiro, Dilma lembrou que a inclusão social não era vista por governantes e economistas como um fator de desenvolvimento. “Nosso modelo busca a prosperidade pela incorporação das grandes massas, historicamente excluídas. A inclusão social tornou-se motor de nossas economias, não o contrário, como insistiam e fracassaram no passado nossos governantes e economistas, desvinculados de nossas realidades nacionais.”
Para ela, este modelo representou uma maneira de enfrentar a crise financeira mundial. “Enquanto países mais prósperos e desenvolvidos desmontam mecanismos de bem-estar social, os países do Mercosul investem cada vez mais em programas de proteção social”, afirmou. Dilma defendeu maior integração das cadeias produtivas dos países que integram o bloco econômico, além de mais estímulo ao intercâmbio entre as empresas, principalmente as de pequeno e médio porte dos países da região do Cone Sul. Ressaltou também a necessidade de trocas mais intensas nas áreas de inovação tecnológica e, para isso, propôs a criação de um sistema de bolsas de estudos nos países do Mercosul. “É essencial multiplicar iniciativas de intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores. Urge criar um sistema acessível e operacional de bolsas de estudo entre nossos países.”
Uruguai assume presidência pro tempore do Mercosul
O presidente do Uruguai, José Mujica, vai receber de seu colega paraguaio, Fernando Lugo, a presidência pro tempore do bloco regional, com várias pendências que vão merecer maior dedicação política e técnica. Uma delas é o fim da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC), previsto para entrar em vigor em janeiro de 2012.
Mas o maior desafio de Mujica será reaproximar os presidentes do Mercosul. Embora o médico do gabinete presidencial argentino tenha justificado que Cristina Kirchner não podia viajar por causa do golpe que levou na testa na semana passada, a ausência da presidente da Argentina foi muito mal recebida pelos governos paraguaio e uruguaio. Lugo tinha expectativa de uma reunião com a colega para poder fechar o acordo de venda de energia elétrica para o Uruguai, que sofre de escassez energética em consequência, entre outras coisas, do corte no fornecimento do gás argentino. Mujica e Lugo precisam do aval de Cristina para usar a linha de transmissão de eletricidade argentina que une os dois países.