O governo brasileiro apoia a criação de um imposto global sobre
operações financeiras, desde que ele surja de um consenso entre os
países e que seus recursos sejam destinados a investimentos sociais,
declarou ontem a presidente Dilma Rousseff, durante reunião de trabalho
dos líderes do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo.
Capitaneada pelo economista norte-americano Jeffrey Sachs, consultor da
Organização das Nações Unidas (ONU), e pela organização britânica
Oxfam, a ideia de taxar a movimentação de capitais era um dos
principais temas do encontro de chefes de Estado até que a crise grega
atropelou a agenda inicial. Os bancos e a Grã-Bretanha são os
principais opositores. Ainda assim, uma referência ao tema deve surgir
no comunicado final, a ser divulgado hoje.
Depois de ter se encontrado, mais cedo, com seus colegas do Brics
(acrônimo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul),
Dilma disse que o Brasil está disposto a colaborar financeiramente com
um plano de resgate para os países endividados da Europa desde que o
socorro seja feito exclusivamente via Fundo Monetário Internacional
(FMI). “O Brasil é solidário, mas a solução definitiva para a crise
precisa de liderança, visão clara e rapidez”, afirmou a presidente na
mesa de reuniões do G-20 Ela estava sentada entre o primeiro-ministro
da Itália, Silvio Berlusconi, e o presidente da Coreia do Sul, Lee
Myang-Bak. “Discutimos a necessidade de ter uma posição unida dos Brics
na reunião do
G-20″, resumiu o presidente da Rússia, Dimitri Medvedev.
Prioridades
Declarações semelhantes foram dadas pelo primeiro-ministro da Índia,
Manmohan Singh, pelo presidente sul-africano, Jacob Zuma, e pelo
presidente da China, Hu Jintao. Dilma deixou claro que pretende
estabelecer até hoje quais são as prioridades para os emergentes em
meio às discussões sobre os impactos da crise internacional. Para ela, é
fundamental apostar nas políticas de inclusão social e nos
investimentos em geração de emprego. Hoje, deverá ser divulgado
comunicado conjunto do G-20 sobre governança global e as diretrizes que
serão asdotadas pelo México, que assumirá a presidência rotativa do
grupo em 2012. O texto deve trazer um elogio à política fiscal
brasileira, afirmando que as contas públicas do país “estão fortes”.
Dilma disse ainda que o Brasil tem uma “experiência exitosa” de
combate à crise com redução da pobreza, como provaria a inclusão de 40
milhões de pessoas na classe média. Segundo ela, “é do conhecimento de
todos” o empenho nacional para a retomada das negociações na Rodada
Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), voltadas para a abertura
comercial. “Mas essas questões devem ser avaliadas no contexto da
crise, que inclui os problemas cambiais e a ampliação da liquidez, com
reflexos negativos sobre países como o Brasil”, ressaltou. A presidente
fazia uma referência à manipulação do dólar e da moeda chinesa, que
levou à valorização excessiva do real.