Enquanto os bancos centrais continuam a injetar enormes somas de dinheiro no sistema financeiro global, estão também alimentando uma das mais arriscadas estratégias de investimento para o mercado de câmbio. Conhecida como “carry trade”, a estratégia envolve tomar dinheiro emprestado em países como o Japão, onde a taxa de juros é baixa, investi-lo onde as taxas são mais altas e embolsar a diferença.
Depois de florescer durante os anos de boom econômico, esse tipo de operação praticamente desapareceu, porque as grandes oscilações do câmbio levaram a grandes perdas durante a crise financeira. Agora, no entanto, os mercados estão mais calmos e, ao mesmo tempo em que alguns bancos centrais sinalizam aumento de juros e outros mantêm as taxas perto de zero, os fundos de hedge e outros investidores estão voltando às operações.
“O negócio está começando a se recuperar”, diz Stephen Jen, diretor-gerente da BlueGold Capital Management LLP, de Londres. “Os investidores estão começando a pensar em alta de juros, o que torna essas operações mais relevantes e atraentes.”
Se essa atividade continuar a crescer, é provável que tenha impacto sobre as moedas, pesando sobre aquelas que os traders usam para fazer os empréstimos e dando impulso às escolhidas como investimento.
Isso também pode ter o efeito oposto quando os investidores se tornam avessos ao risco, como aconteceu na segunda-feira, quando o iene teve uma alta acentuada em relação a outras divisas.
O iene continua sendo uma moeda popular para a tomada de empréstimos, diante da atitude do banco central de manter a taxa referencial de juros próxima de zero. Mas há outras regiões atraentes, como a Europa, onde a taxa está em 1%, ou os Estados Unidos, onde os juros estão perto de zero e o Federal Reserve, o banco central, injetou mais de US$ 1 trilhão na economia este ano.
Embora seja difícil encontrar indicadores precisos de carry trade, analistas do Deutsche Bank dizem ver investimento voltando para o real brasileiro, uma referência para o carry trade por causa da história de juros altos do país. Em meados deste mês, os investidores tinham US$ 4 bilhões em apostas líquidas de queda da moeda, contra US$ 12 bilhões em março. O real subiu 28% em relação ao dólar americano desde o fim de fevereiro.
Muitas das operações de carry trade são parte de apostas mais amplas na recuperação econômica global, dizem analistas e investidores. Alguns investidores estão aplicando o dinheiro que tomaram emprestado em iene e dólar em ativos na Austrália, uma grande produtora de commodities que deve se beneficiar da recuperação econômica de um de seus principais compradores, a China. Desde o fim de fevereiro, o dólar australiano subiu 29% em relação à moeda americana.
É fato que o carry trade representa muitos riscos, especialmente diante das diferenças mínimas entre as taxas de juros de hoje, comparadas com as dos anos de boom. Uma simples queda de 1,5% na coroa norueguesa, uma moeda popular no carry trade, em relação ao dólar pode devorar os potenciais ganhos de um fundo de hedge numa operação de câmbio de US$ 10 milhões.
Os carry traders relaxam na relativa calma dos mercados acionário e cambial, em comparação com os dias sombrios da crise. “As operações de carry trade são para viagens suaves”, diz Dráusio Giacomelli, diretor de estratégia para mercados emergentes do Deutsche Bank em Nova York.