Passada a crise, a demanda por crédito está provocando uma corrida das instituições financeiras às fontes de captação. Neste início de ano, há uma grande procura por funding no mercado internacional, e o Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE), considerado pelos bancos médios uma ferramenta cara, também está em ascensão. Além disso, a Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC) estuda formas de incrementar a captação via Certificado de Depósito Bancário (CDB), como, por exemplo, venda pela internet, aos moldes do Tesouro Direto.
Segundo Renato Oliva, presidente da ABBC, a entidade, em conjunto com outras associações, está estudando medidas que possam alavancar a captação via CDB. “Também estamos conversando com o Balcão Organizado de Ativos e Derivativos [Cetip] sobre isso. A idéia é democratizar o acesso do investidor.” Segundo ele, discutem-se medidas como vincular garantias ao título e a possibilidade de venda via internet, como nos títulos do governo.
Ainda segundo Oliva, a letra financeira (LF) também será importante para atender a maior demanda por crédito, principalmente na pessoa jurídica. O título foi criado no fim do ano passado pela autoridade monetária, e aguarda regulamentação.
Por outro lado, a forte demanda também está “revitalizando” o DPGE, que vinha sendo pouco procurado pelos bancos.
Esse tipo de depósito é um instrumento de captação criado pelo governo federal em março do ano passado, como medida para dar maior liquidez aos bancos médios durante a crise financeira. Com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o investidor recebe até R$ 20 milhões do valor aplicado no título em caso de liquidação do banco. O prazo mínimo de emissão é de seis meses e máximo de cinco anos.
Segundo dados da Cetip, desde a sua criação, a velocidade de expansão do saldo total do DPGE vem caindo. Em 1º de dezembro, o título acumulava saldo de R$ 13,751 bilhões, ante R$ 12,954 bilhões no início de novembro, crescimento de 6,15%. Até janeiro, a expansão foi de 3,82% e de 1,81% no primeiro dia de fevereiro. Naquele mês, o crescimento voltou a se acelerar, chegando a 3,49% até o início de março e de 7,4% em abril, com um estoque de títulos registrados na Cetip de R$ 16,154 bilhões.
Uma das maiores críticas ao instrumento era o seu preço. Para os bancos, apesar de considerarem o instrumento “útil”, o seguro de até 1% do valor era demasiado alto. Para Oliva, neste momento, a facilidade de se conseguir o recurso compensa o custo. “Não é a primeira alternativa de captação, mas dentro das estruturas de longo prazo, é a mais fácil.” Segundo ele, para essas instituições de menor porte é mais difícil conseguir emissões de títulos no exterior com prazos longos. “Por isso o DPGE é vantajoso principalmente nos prazos mais longos”, afirma Oliva.
Além disso, os bancos médios estão aproveitando os graus de investimento concedidos ao País antes da crise para incrementar sua captação externa, principalmente as instituições com um bom rating, que devem aproveitar a liquidez internacional.
Só neste primeiro trimestre do ano, o banco Cruzeiro do Sul anunciou emissão de US$ 250 milhões em notes, o Daycoval captou US$ 300 milhões em bônus e o Fibra, US$ 25 milhões em dívida subordinada. Além disso, em novembro do ano passado, o Fibra já havia realizado emissão de US$ 100 milhões.
O Banco Fibra deverá utilizar essas emissões para expandir suas carteiras de crédito. Somadas, as emissões de dívida permitem um crescimento de R$ 2,5 bilhões da carteira de crédito do banco, que passou de um índice de Basileia de 15,4% em 2008 para 17,7%. Em 2010, o banco espera uma expansão de 30% de sua carteira de crédito a empresas, que encerrou 2009 com R$ 4,058 bilhões, expansão de 16% sobre o ano anterior e responsável por 73% do seu estoque total de crédito, de R$ 5,525 bilhões.
Analistas acreditam que, como o grau de investimento das três principais agências classificadoras de risco internacionais veio ao longo de 2008, o último já durante a crise financeira internacional, este deve ser o ano em que as instituições financeiras verão a utilidade prática desses “selos de qualidade”. A Standard & Poor’s elevou o País a grau de investimento em 30 de abril de 2008, seguida pela Fitch Ratings em 29 de maio daquele ano. A confirmação da Moody’s veio no mesmo ano, em 22 de setembro, poucos dias depois da quebra do banco Lehman Brothers, que deu início ao auge da crise financeira.
Graças à retomada do crescimento da economia, é esperado um incremento das captações no exterior ao longo do ano, principalmente para financiar a expansão bancária neste ano, que se dará via incremento do crédito, principalmente à pequena e média empresa.
Além disso, os juros já voltaram a patamares anteriores à crise. Para dar uma idéia, em maio de 2008, banco BMG captou US$ 200 milhões com uma emissão de bônus no exterior, com prazo de três anos, a 7,375% ao ano. A emissão do Daycoval, com prazo de cinco anos, pagará uma taxa de retorno (yield) de 6,75% anuais.
Prazos
Para Oliva, não basta o Banco Central criar instrumentos que permitam alongamento de prazos de captação, mas também é necessário um esforço para a criação de um mercado secundário, que viabilize esses títulos de prazos maiores.
“É esse mercado secundário que vai viabilizar a existência de ferramentas com prazos maiores”, afirma.