Em discurso recente, no qual lançou seu plano para o futuro energético dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama reafirmou o interesse em importar petróleo do Brasil e destacou o exemplo do país na produção e no uso de biocombustíveis.
Obama anunciou um plano para reduzir as importações norte-americanas de petróleo (11 milhões de barris por dia quando ele foi eleito, no fim de 2008) em um terço até 2025. Admitiu, porém, que o petróleo ainda continuará a ser parte importante da matriz energética dos EUA por um bom tempo. “E quando se trata do petróleo que importamos de outras nações, nós podemos associar a vizinhos como Canadá, México e Brasil, que recentemente descobriu grandes reservas de petróleo e com quem podemos compartilhar tecnologia”, afirmou o presidente em discurso na Universidade de Georgetown, em Washington.
O discurso dia 30 foi uma forma de prestação de contas ao público doméstico, em um momento em que a alta nos preços dos combustíveis – alimentada por crises internas em países produtores de petróleo, como a Líbia – representa um problema a mais para a economia norte-americana, que enfrenta uma recuperação lenta depois da crise global e altas taxas de desemprego.
Além de reduzir a dependência de petróleo, os EUA buscam também diversificar seus fornecedores. O interesse de Washington em ter o Brasil como grande fornecedor de petróleo e inspirador para diversificar a produção de biocombustíveis já havia sido manifestado por Obama em sua primeira visita ao país, há duas semanas. “Queremos trabalhar com vocês. E quando vocês estiverem prontos para vender, queremos ser um de seus principais clientes”, disse Obama em Brasília, ao comentar o interesse norte-americano nas descobertas de petróleo na camada pré-sal.
As declarações durante a visita ao Brasil chegaram a provocar críticas internas, da oposição, para quem Obama deveria se concentrar em investimentos no setor dentro dos EUA. Depois do vazamento no Golfo do México no ano passado, provocado pela explosão de uma plataforma operada pela petroleira britânica BP, o governo Obama aumentou as exigências de segurança para exploração em águas profundas. Ao comentá-las, o presidente norte-americano rejeitou críticas de que tenha “fechado” a exploração de petróleo no país. “Isso não condiz com a realidade”, disse, quarta-feira, afirmando que seu governo incentiva a produção e a exploração de petróleo em águas profundas, “contanto que seja segura e responsável”.
O resumo da ópera da visita de Obama ao Brasil ficou restrito mesmo ao interesse norte-americano pelo que renderá do pré-sal, nossas megarreservas de petróleo, dentro de quatro a seis anos. A rasgação de seda, em Brasília e no Rio de Janeiro, o passeio noturno ao Cristo Redentor e os shows de capoeira que sua mulher, Michele, viu, desgarrada do marido, na capital fluminense, foram apenas mise-en-scène de uma viagem com fortes interesses econômicos embutidos.