O Brasil passou pelo crivo do Fórum Econômico Mundial, que terminou ontem, em Davos, na Suíça, com fama de bom aluno. O reconhecimento ocorreu mesmo com o país estando representado por uma delegação tão pequena, que, praticamente, desapareceu no meio de uma legião de chineses, indianos e russos. No centro da cidade, e também nos pontos de ônibus, foram espalhados cartazes com fotos de jovens indianos, com os seguintes dizeres: “Índia includente: a maior fonte de talentos jovens do mundo”. Pela primeira vez em anos, não se ouviu uma única crítica ao rumo econômico do Brasil. Ouvia-se apenas perguntas do tipo: por que tão poucos brasileiros?
– A quantidade de empresários que ouvi dizendo que tinha ido para o Brasil foi impressionante – comentou Mônica Antunes, assessora do escritor Paulo Coelho.
Inflação, dívida na Europa e guerra cambial são ameaças
Empresários e economistas encerraram ontem o Fórum agradecendo o mundo emergente, sobretudo China e Índia, por terem ajudado à economia mundial a sair do buraco da pior crise desde os anos 30. Davos, na realidade, comemorou não um sucesso, mas sim o fato de o mundo estar conseguindo administrar um desastre.
– Não caímos no precipício e há crescimento no mundo – avaliou Paul Bulcke, principal executivo da gigante suíça Nestlé e um dos presidentes do encontro de Davos.
– A economia está no caminho da recuperação – afirmou Wei Jiafu, principal executivo do China Ocean Shipping Group C.
Mas também há riscos de tempestade pela frente, alertaram economistas, banqueiros e empresários. Inflação no mundo emergente, endividamento na Europa, risco de uma guerra das moedas – dólar versus o remimbi chinês – e disparada dos preços das commodities foram alguns dos fantasmas do encontro este ano.
No plano político, a revolta no Egito pairou como uma nuvem negra, criando incertezas sobre se o país e os vizinhos do mundo árabe caminham para o mesmo desfecho da Tunísia, onde a “revolução de Jasmin” derrubou, em apenas alguns dias, o ditador Ben Ali. O ministro de Infraestrutura e Transporte da Tunísia, Yassine Brahim, assegurava que seu país vai construir uma “democracia”.