O advogado que hoje se notabiliza por estar à frente de alguns dos maiores negócios do Brasil ganhou notoriedade há alguns anos por comprar briga com grupos poderosos. Em 2003, aos 27 anos, Daniel Goldberg foi levado pelo então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para assumir a Secretaria de Direito Econômico (SDE).
A pouca idade provocou alguns momentos embaraçosos na nova função. “Logo no dia da posse, havia preparado um discurso contundente, para tentar compensar a falta de idade. Mas, quando entro no palco, uma repórter de TV que estava sentada na primeira fila falou: “Mas esse é o novo secretário? Ele não tem idade nem para votar!”. Todo mundo riu”, lembra Goldberg.
Uma das prioridades de Goldberg em seu período na SDE foi o combate aos cartéis. “Nossa ideia dentro do sistema de defesa da concorrência era não atrapalhar a evolução dos mercados, só bloquear aquelas fusões que fossem obviamente deletérias – mas sermos muito assertivos na parte de combate a cartéis.” O primeiro grande caso em que se envolveu, em 2003 mesmo, foi o que ficou conhecido como “cartel das britas”.
A SDE comprovou que grandes empresas que atuavam no mercado de britas na região metropolitana de São Paulo – um grupo que incluía nomes como Mendes Junior, Camargo Corrêa, Lafarge e Holcim – se reuniam para combinar o preço do produto. Em 2005, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) concluiu pela existência do cartel, com a aplicação de multas que variaram de 15% a 20% do faturamento bruto das empresas envolvidas. Depois disso, vieram outros e outros cartéis.
Para Márcio Thomaz Bastos, Goldberg fez um trabalho brilhante à frente da SDE. “É um profissional muito talentoso, que desempenhou um papel muito importante dentro do Ministério da Justiça, inclusive do ponto de vista estratégico”, diz. “Não me surpreende que esteja indo tão bem agora em um banco, já que busca o máximo de qualidade em tudo aquilo que faz.”
Segundo Goldberg, a transição da SDE para o Morgan Stanley, pelo menos no que se refere à área de fusões e aquisições, não foi uma coisa complicada. E talvez tenha até ajudado no desempenho como banqueiro. “Um pouco do que a gente faz num órgão como a SDE é analisar, quantitativa e qualitativamente, os mais diversos setores da economia, e avaliar cada um dos negócios que acontece nesses setores. Só que, ao invés de avaliar o negócio do ponto de vista dos acionistas, a gente avaliava do ponto de vista dos consumidores.”
E o fato de ter comprado brigas quando estava no governo, segundo Goldberg, não atrapalhou a vida profissional fora de Brasília. “Como a equipe que foi para Brasília no primeiro mandato do governo Lula estava muito focada na eficiência e na efetividade do poder público, acho que acabou passando uma imagem muito profissional. Teve muita gente que pode até não ter ficado feliz com determinada decisão, mas que respeitou o modo como chegamos até lá.”
Goldberg diz ter saído de Brasília com a sensação de dever “quase” cumprido. “Nós conseguimos fazer quase tudo a que nos propusemos, com a exceção – que não é pequena – de reformar o sistema de defesa da concorrência nacional como um todo. Fizemos um projeto e conseguimos enviá-lo para o Congresso, mas não conseguimos fazê-lo tramitar na velocidade necessária. Na verdade, esse projeto ainda está no Congresso.”