A perda de espaço do Brasil no mercado consumidor argentino para os produtos chineses é o resumo do principal problema que os exportadores do país estão enfrentando com a crise.
Diante da diminuição da demanda nos EUA, na Europa e em outros países desenvolvidos, a disputa para vender ficou muito mais acirrada, principalmente nos emergentes, que têm enfrentado uma retração menor do que os ricos.
“A China leva vantagem na competição porque o seu câmbio é altamente favorável. Além disso, o país conta com uma política de comércio exterior agressiva de governo, e não de empresas isoladamente, como faz o Brasil”, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
“O que a China tem que nós não temos é preço. A carga tributária interna brasileira é tão pesada para os empresários que, mesmo sem pagar tarifas alfandegárias para entrar na Argentina, o nosso produto chega lá bem mais caro do que o chinês”, aponta Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
Outro trunfo dos chineses, acrescenta Castro, é a sua solidez financeira, que lhe possibilita oferecer financiamento para os compradores dos seus manufaturados. “Em tempos de escassez de crédito, um prazo de dois ou três meses para pagar é tudo que o comerciante quer. O fabricante da China pode até não receber depois, mas pelo menos ganhou uma área, que é o mais importante.”
Isso significa que, no final da crise, quando os consumidores do mundo todo despertarem, será mais difícil para os exportadores que perderam mercado retomarem os nichos que foram perdidos.
“Ainda mais porque o Brasil não tem uma marca forte fora. O governo precisa urgentemente aprimorar as estratégias de propaganda e promoção do país”, afirma Segatto.
Negociações
Endurecer as negociações com os parceiros comerciais poderia ser uma maneira de defender o mercado dos produtos brasileiros no exterior -os empresários têm reclamado bastante de barreiras informais impostas pela Argentina.
“O governo brasileiro se mostra superpaternalista e se nega a pressioná-la. A tática adotada parece ser a de distribuir favores”, diz Luiz Martins Garcia, gerente de exportação da consultoria Aduaneiras.
O secretário de comércio exterior do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Welber Barral, rebate as críticas, negando que o Brasil seja leniente demais nas negociações com a Argentina. “Todos os problemas que surgem são discutidos na nossa comissão de monitoramento de comércio, que tem reuniões mensais. Muitas vezes endurece-se, sim -isso pode não aparecer publicamente, mas as questões são resolvidas”, afirma.
Barral diz que apenas algo em torno de 14% do volume das exportações do Brasil para a Argentina estão enfrentando algum tipo de barreira para alcançar o mercado do vizinho. “Ou seja, a grande maioria das vendas continua fluindo”, frisa.