Estão mudando rapidamente as posições do mercado futuro de juros sobre a política monetária no ano que vem. Até a divulgação do resultado trimestral do PIB, da pesquisa do Caged e dos números mais atuais sobre a inflação corrente, os analistas estavam divididos entre os que apostavam em alta da Selic no segundo semestre de 2010 e os que acreditavam que um aperto monetário só seria necessário em 2011. Esta segunda ala perdeu força na semana passada. O consenso já é quase total no sentido de que o Copom, a despeito do calendário eleitoral, não poderá evitar o descongelamento do juro, tabelado desde julho em 8,75%, na reunião do meio do ano. Mesmo tendo de subir a taxa, a Selic permaneceria no atual patamar por longo período de 12 meses. Mas só esta alteração de expectativas já é capaz de provocar uma disparada dos juros futuros. E se as taxas projetadas para frente sobem, o custo do crédito sobe agora. Na semana passada, o contrato de CDI mais negociado, para janeiro de 2011, pulou de 9,64% para 9,92%. E a taxa do swap de 360 dias passou de 9,13% para 9,30%. Com isso, o juro real – descontada a previsão de IPCA do Focus para o mesmo período, de 4,12% -, avançou de 4,81% para 4,98%.
A economia cresce mais do que o previsto, cria empregos acima do esperado e pode estar começando a gerar inflação. Pelo menos já se sabe que a era da deflação no atacado parece ter ficado para trás. O IGP-10 passou, de uma vez só, de uma deflação de 0,60% em agosto para uma inflação de 0,35% em setembro. O mercado esperava por essa inversão, mas não tão vigorosa. O consenso era de alta de 0,27%. “Este primeiro resultado de setembro reafirma que a alta dos preços dos produtos industriais no atacado veio para ficar, na esteira da recuperação da atividade econômica. Sobre os produtos agrícolas no atacado, sua rápida aceleração aponta para uma maior pressão sobre os preços dos produtos alimentícios industrializados no atacado, bem como para novas rodadas de reajuste dos preços destes produtos no varejo nos próximos meses”, adverte a consultoria LCA.
Além dos dados sobre o lado real da economia, as expectativas podem contribuir para o Copom apressar seus planos de alta. Por meio do Focus, o mercado já iniciou movimento de revisão para cima das apostas de IPCA. O que importa agora é o prognóstico para 2010. E este, na pesquisa da semana passada, subiu de 4,30% para 4,35%. Há alguns bancos que já projetam taxa acima da meta de inflação de 4,5%. Prevalece o receio de que o “fechamento” do hiato do produto seja mais rápido do que o imaginado. Isso – junto com um aquecimento de demanda, expansão do PIB acima de 5% e ampliação de gastos pré-eleitorais – pode fazer o novo Copom (na hipótese de que Henrique Meirelles deixe a presidência do BC em abril, acompanhado por pelo menos dois diretores) arquivar seu programa de congelamento até o fim do governo Lula.
O arrocho monetário implícito na curva futura de juros poderá não acontecer em caso de piora na crise externa. Na hipótese de prevalecer a forma em W, tanto o BC brasileiro quanto o americano terão de adiar por mais tempo os procedimentos de retirada dos estímulos monetários. Os mercados globais estão muito interessados em conhecer a opinião do Fed sobre o melhor momento para as estratégias de saída, sobretudo depois da divulgação, na semana passada, de excelentes indicadores sobre atividade. Terão a oportunidade de atualizar-se a respeito depois de amanhã, ao cabo da reunião de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc). Antes e depois desse encontro, os mercados persistirão debatendo se o atual rally tem ou não consistência. E até quando poderá durar.
Para Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, “os mercados continuam a ignorar qualquer possibilidade de realização mais forte no curto prazo”. Há a expectativa de aumento da fragilidade da economia americana ao longo do tempo, na medida em que programas como o “cash for clunkers” deixem de impactar positivamente os indicadores. Mas, exuberantes, os mercados parecem ignorar esse fato. Muitos economistas subestimam a influência da liquidez. Mas o fato é que os mais de US$ 12 trilhões injetados pelos governos ao redor do mundo, seja em ajuda ao sistema financeiro, seja em programas fiscais, estão “rodando” por aí e buscando rentabilidade. “A realização deverá vir, mas apenas quando essa liquidez tiver sido drenada”, diz Leal.