O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve ontem, por unanimidade, a taxa básica de juros em 8,75%, pela segunda reunião seguida. O BC não forneceu nenhuma pista sobre se voltará a subir os juros em 2010, como espera a maior parte dos analistas econômicos do mercado financeiro.
O comunicado divulgado logo após o encontro é idêntico ao da reunião de setembro. “Tendo em vista as perspectivas para a inflação em relação à trajetória de metas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 8,75% ao ano, sem viés, por unanimidade!”, afirma a nota. “Levando em conta, por um lado, a flexibilização da política monetária implementada desde janeiro, e por outro lado a margem de ociosidade dos fatores produtivos, entre outros fatores, o Comitê avalia que esse patamar de taxa básica de juros é consistente com o cenário inflacionário benigno, contribuindo para assegurar a manutenção da inflação na trajetória de metas ao longo do horizonte relevante para a recuperação não inflacionária da política monetária.”
Entre janeiro e julho, o BC reduziu a Selic em cinco pontos percentuais, de 13,75% para 8,75%, menor patamar nominal da história recente. O estímulo monetário foi uma das medidas adotadas pelo governo para reanimar a economia, que entrou em recessão devido ao contágio da crise financeira mundial.
Em 8,75% ao ano, na visão de alguns economistas do setor privado, a Selic encontra-se abaixo da taxa natural de juros do país, entendida como o patamar de juros que não causa aceleração inflacionária. Por isso, acreditam, o BC será obrigado a subi-la novamente em algum momento. No comunicado, o BC enfatiza que ainda existe forte capacidade ociosa na economia, por isso o estímulo monetário ainda não causa aceleração inflacionária. Mas deixa claro que o cenário inflacionário benigno tem validade temporária – ele se aplica ao que chama de “horizonte relevante”. Os modelos do BC apontam que a política monetária tem seu efeito máximo sobre a inflação um ano depois da decisão. Assim, a decisão tomada ontem determina a inflação até fins de 2010.
Alguns analistas do mercado financeiro ponderam que o excesso de aquecimento da economia deverá levar à alta da inflação em 2011. Por isso, acreditam que o BC será obrigado a subir os juros ao longo de 2010 para manter os índices de preços na trajetória das metas. O consenso é que a Selic suba a 10,5% ao ano até o fim de 2010. Parte desses analistas acha que o aperto monetária será feito logo no primeiro semestre, enquanto outros esperam algum movimento apenas no segundo semestre. Há, ainda, alguns analistas que acham provável que a Selic seja mantida inalterada em 2010, em virtude de fatores positivos para a trajetória de inflação, como a valorização da taxa de câmbio.
A repetição do comunicado pós-Copom pode, no entender da consultoria LCA, frustrar uma parcela dos analistas que “via a possibilidade de a autoridade monetária dar início a uma mudança de retórica que visasse preparar os mercados para uma elevação de juros em horizonte não muito distante”. Por isso, as cotações de juros negociadas nos mercados futuros podem reagir em baixa moderada à decisão e, sobretudo, ao comunicado.