A política de juros tem de ser administrada com “cautela” neste momento. Foi esse o recado da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira. De acordo com o documento, há pressão da inflação em vários setores. Isso faz com que a alta de preços fique resistente. E, para os diretores do Banco Central, esse pode não ser um “fenômeno temporário”, mas uma eventual acomodação da inflação num patamar mais alto. A preocupação aumenta por “incertezas remanescentes” no Brasil e na economia internacional. Tanto nas previsões do BC quanto nas do mercado, a inflação está acima da meta de 4,5% neste ano e no ano que vem.
Na semana passada, o Banco Central decidiu – por unanimidade – manter o foco na atividade econômica e não alterou os juros básicos (Selic) que estão em 7,25% ao ano. No entanto, mudou o discurso e deixou a porta aberta para voltar a subir os juros na reunião de em abril para conter a alta de preços. Essa ideia vem do fato de o comunicado e a ata do Copom terem suprimido a expressão “suficientemente prolongado”. Nos avisos anteriores, o BC dizia que a sua estratégia para controlar os preços era deixar a taxa parada por um bom tempo. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 6,31%.
O BC, na ata, ainda reavaliou a projeção para o desconto na conta de luz. A projeção atual é de um recuo de aproximadamente 15% na tarifa residencial de eletricidade, ante 11% considerados na reunião do Copom de janeiro. Já a projeção de aumento de preços administrados por contrato e monitorados caiu de 3% para 2,7% para este ano.
No entanto, o BC ressalta que a inflação de serviços segue em níveis elevados e há pressões no segmento de alimentos e bebidas. Além disso, é estreita a margem de ociosidade no mercado de trabalho. No entanto, os diretores ressaltaram que informações recentes apontam para a retomada do investimento e para uma trajetória de crescimento mais alinhada com o crescimento potencial. Por isso, o Copom destaca que o cenário central contempla ritmo de atividade doméstica mais intenso neste ano.
Para o Copom, o consumo das famílias deve continuar forte. Os efeitos da estabilidade de juros, os programas de concessão de serviços públicos, os estoques em níveis ajustados e a gradual recuperação da confiança dos empresários criam perspectivas de intensificação dos investimentos. Por um lado, os diretores do BC lembram que o governo gasta para estimular a economia. Por outro lado, há o ainda frágil cenário internacional.
“Esses elementos e os desenvolvimentos no âmbito parafiscal e no mercado de ativos são partes importantes do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas”, diz o documento.