Os bancos inverteram completamente seu posicionamento no mercado à vista de câmbio às vésperas da adoção do IOF de 2% sobre a entrada de capitais estrangeiros. Depois de encerrarem setembro com posição vendida de US$ 3,28 bilhões, eles vinham ampliando o caixa nessa direção, até alcançarem o pico de US$. 4,934 bilhões no dia 9, mas reverteram a rota inteiramente na semana passada. De acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central, pela posição do dia 16 estavam “comprados” em US$ 1,24 bilhão. A mudança mostra uma antecipação à expectativa de que algo iria ser baixado para conter o declínio do dólar. Mas não deve ser interpretada como aposta das tesourarias de bancos – setor dos mais dinâmicos e agressivos do mercado – de que a medida dará certo. Pelo contrário, os dados mais recentes sobre as convicções cambiais das instituições bancárias (as posições assumidas nos mercados futuros de câmbio) indicam exatamente o oposto: elas estão ampliando as posições “vendidas”. Do dia 19 para o dia 20, o caixa liquidamente vendido em dólar futuro deu um salto de US$ 1,99 bilhão para US$ 3,911 bilhões . Também no cupom cambial a visão é de desvalorização do dólar. Aqui, as posições vendidas alcançam US$ 3,02 bilhões. No mercado futuro, a posição total vendida soma US$ 6,93 bilhões.
A opção pela ponta vendida mostra-se mesmo a mais correta. O impacto negativo da imposição do IOF parece ter-se dissipado já no segundo dia de vigência. Ontem, a moeda aceitou a direção indicada pelo mercado internacional e fechou em desvalorização de 1,14%, cotado a R$ 1,7250. Trata-se de preço mais alto que o registrado (R$ 1,7130) na segunda-feira, dia anterior ao da cobrança do IOF, mas os operadores acreditam que o dólar logo voltará a testar o piso de R$ 1,70. O fluxo de entrada de capitais externos pode ser menor, mas ainda deve ser superior à saída. Como os bancos, os investidores internacionais também se anteciparam à cobrança. A exemplo do que já tinham feito em março de 2008, quando a Fazenda instituiu IOF de 1,5% sobre dólares direcionados à renda fixa – medida revogada depois por causa da crise externa -, os estrangeiros trouxeram um gigantesco volume de capitais na semana passada para escapar da tributação. Foi por isso que a conta financeira exibiu um superávit de US$ 12,148 bilhões no período.
Em dia de decisão de taxa Selic pelo Copom do BC, o que chamou a atenção no mercado futuro de juros da BM&F não foi o declínio experimentado pela maior parte dos contratos. Foi o baixo volume de negócios. No antigo pregão viva-voz, o giro nem chegou a 300 mil contratos. O marasmo revela a percepção dos players do DI de que o BC não iria reagir monetariamente ao recente debate travado com a Fazenda em torno dos supostos efeitos inflacionários da expansão fiscal. Nem manifestaria oficialmente seu desagrado em relação à tributação imposta ao capital externo. O resultado da reunião de ontem em seus três aspectos relevantes – decisão de manter a Selic em 8,75%, por placar unânime de oito a zero e relatada em comunicado repetitivo e anódino -, mostra que o mercado estava certo. Este Copom de outubro revela que o BC não abandonou, como observa o economista Marco Garcia, diretor da Mag Consultoria, a sua orientação “tempestiva”, de agir somente em cima de fatos concretos, nunca se antecipando a eventos que podem ou não ocorrer no futuro. O consultor se diz mais favorável a uma política monetária preventiva e que se antecipe aos acontecimentos de modo a interferir em seu curso, mas não considera errada a política tempestiva. “A inflação está controlada. A única justificativa para o aumento da Selic seria reduzir as taxas longas de juros e, por tabela, o custo do Tesouro em captar recursos. Utilizar a política monetária para influenciar as taxas longas de juros no sentido da baixa é aconselhável, mas poucos defendem isto, só os monetaristas de fato”, diz Garcia.
Hoje, dia de ajustes à decisão do Copom, os participantes do pregão de juros futuros podem alegar que precisam ler a ata do encontro antes de proceder a ajustes. Mas o caminho correto é ladeira abaixo, persistindo na redução dos contratos. Apesar das baixas recentes – ontem, o contrato mais negociado, para janeiro de 2011, cedeu de 10,44% para 10,37% -, a estrutura a termo persiste ainda muito inclinada, embutindo aperto monetário de 3,5 pontos em 2010.